Jorge Amado

As viagens para a Bahia devem ser feitas sempre por via marítima. Vindo-se de navio, tem-se o espetáculo da entrada do pôrto…”. Êste conselho, justa advertência, está numa das primeiras páginas de “Cidade do Salvador, caminho do encantamento”, e imediatamente senti-me íntimo e solidário com o livro e seus autores porque sempre fui dessa mesmíssima opinião. Sim, senhores: se verdadeiramente desejais possuir por inteiro essa cidade da Bahia que é o amor de todos nós, brasileiros do Amazonas ao Chuí, vinde de navio, assim podereis tomar de suas mãos marítimas ao chegar e iniciar com ela o idílio de vossa vida. A cidade da Bahia não é dessas que se entregam fàcielmente. Dela não se toma como de uma beleza à venda que se leva para o leito vazio de uma noite, apenas descemos do avião. É necessário namorá-la, pouco a pouco conquistá-la, se a queremos conhecer e amar, se queremos fruir de sua beleza, cobrimo-nos com seu manto de formosura. A Bahia não é aventura fácil, de turistas apressados, é amor constante de uma vida, inesquecível, aquela para a qual voltamos sempre. O livro de Darwin e Motinha nos ensina como irmo-nos apoderando, pouco a pouco, da cidade da Bahia, como fazê-la nossa.

Não são tantos quanto devera ser os livros sôbre a cidade da Bahia. E poucos são os bons livros, mesmo somando os álbuns de desenho e gravura, a obra admirável que ali vem realizando o desenhista Caribé, a realidade do Bar São Miguel cavada em madeira pelo alemão Hansen, o maravilhoso “Bahia de Tous les Poètes”, do francês Verger. Quando um povo possui uma cidade como a Bahia, de beleza tão densa e tão particular, deve valorizá-la ao máximo. Alguns bons livros existem, no entanto, e a êles vem somar-se agora, como dos melhores, êste “caminho do encantamento”. O livro se desenvolve em pequenas manchas, quadras rápidas, fixando uma rua, um acontecimento, um tipo humano, e aos poucos vai-nos dando um panorama compelto da cidade, a moldura de sua beleza e a vida que nela se desenvolve. Não se trata de homens que souberam ver, trata-se de homens que viveram a Bahia, homens de lá, e que a revelam aos leitores em sua inteireza.

Jorge Amado, prefaciando a citada obra, 1958.


Darwin Brandão & Motta Silva. Cidade do Salvador – caminho do encantamento. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, p. XIV-XV.

2 comentários:

  1. oi ana, tudo bom?
    estou trabalhando na equipe de arte de um longa que se passará em salvador, rj e sp entre 1964-1969.
    gostaria de saber se vc poderia me ajudar cm umas perguntas especificas.
    por exemplo, vc saberia me dizer como eram as placas de rua de salvador naquela época?
    obg!

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  2. nao achei seu contato aqui... se voce puder entrar em contato comigo, seria ótimo!
    obrigada.

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