Gilberto Freire

Patrimônio Mundial nº 57 Julho 2010 - UNESCO.


Bahia de todos os santos (e de quase todos os pecados)
casas trepadas umas por cima das outras
como um grupo de gente se espremendo p'ra sair num retrato de revista ou jornal
igrejas gordas (as de Pernambuco são mais magras)
toda a Bahia é uma maternal cidade gorda
como se dos ventres empinados dos seus montes
dos quais saíram tantas cidades do Brasil
inda outras estivessem p'ra sair.

ar mole oleoso com cheiro de comida
automóveis a 30$ a hora
e um "Ford" todo osso sobe qualquer ladeira
saltando, pulando, tilintando p'ra depois escorrer sobre o asfalto novo
que branqueja como dentadura postiça
entre as casas velhas

gente da Bahia!
preta, parda, roxa, morena
cor de bons jacarandás de engenho
do Brasil
(madeira que cupim não rói)
sem caras cor de fiambre
nem rostos cor de peru frio
sem borrões de manteiga francesa
(cabelo ruivo de inglês e de alemão)
Bahia ardendo de cores quentes
carnes mornas gostos picantes...


Texto extraído da "Antologia de Humorismo e Sátira", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1957, pág. 365, seleção de R. Magalhães Júnior.

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