APÊLO

APÊLO

Todos os países dedicam especial atenção aos seus arquivos, dotando-os de instalações adequadas e criando órgãos específicos de divulgação, com o propósito de despertar o interêsse de novas pesquisas por parte dos estudiosos dos assuntos publicados. No ambiente sereno dessas casas do passado, se processam, para bem da humanidade e pela verdade histórica, trabalhos pacientes de buscas e de honesto labor por parte de investigadores que, muita vez, só depois de anos podem revelar o resultado de tanta canceira, esclarecendo pontos obscuros da historia, retificando conceitos e restaurando verdades, dando, em justa medida aquilo que as paixões desfiguraram ou as simpatias cobriram de falso brilho.

Ao lado dos arquivos públicos se enfileiram os de caráter privado, os cartórios das cúrias e as bibliotecas dos conventos, magníficos repositórios de informes manuscritos, dependentes, uns de classificações, outros de autorização expressa para seu manuseio, muitos outros de incompreendido zêlo, mas quasi todos ameaçados de perecimento pela sua má conservação.

A Bahia é, na federação, um dos Estados que possui os mais antigos arquivos e, por isso mesmo, talvez, o melhor documentário que vem do século XVII. Mas possuir essa riqueza, dela se ufanar sem a precisa aplicação, apontar ao estrangeiro cimélios e códices que se vão tornando pó pela voracidade das pragas, sem consentir que os historiadores os examinem, os investigadores os copiem, ou os técnicos os identifiquem, é criminoso e injustificável proceder contra a pátria, porque tais estudos possivelmente provocarão a atenção dos estudiosos, propiciando discussões e novas indagações que ou beneficiam diretamente a nação ou agita os meios culturais brasileiros. 

Que escutem os mordomos e dirigentes dos arquivos privados da Bahia, que ouçam os diretores das repartições especializadas do poder civil e eclesiástico, que atentem os colecionadores particulares e cartorários familiais, o apêlo que ora lhe faz o INSTITUTO GENEALOGICO DA BAHIA, na vigília do 4º centenário da fundação da cidade do Salvador: facilitem aos que procurarem compulsar documentos do passado confiados à sua guarda, animem com a sua assistência os faiscadores do pretérito que, com sacrifício econômico e, muita vez, da própria saúde, visam tão somente contribuir para maior grandeza do Brasil com a verdade que descançam nas prateleiras poeirentas nesses documentos que são testemunhos vivos do heroismo dos nossos antepassados, páginas palpitantes do nosso civismo e da nossa tradição.

Revista do Instituto Genealógico da Bahia, Anno 4, N. 4, 1948, p. 3-4.

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