terça-feira, 24 de maio de 2011

Cine Teatro Jandaia - "Art Déco" em Salvador. O "Palácio das Maravilhas", primeiro "arranha-céus" da cidade.


Em 09 de março de 1911, a Baixa dos Sapateiros, ou J. J. Seabra, como queiram, o mais movimentado centro comercial de Salvador, via nascer o Cine Jandaia, primeiro cinema da cidade, um galpão com teto de zinco para exibição de cinema mudo, obra do comerciante sergipano João Oliveira, um apaixonado pela sétima arte.

O projeto alcançou êxito e foi sendo ampliado. Em 1931 o espaço foi reinaugurado com pompa, como "Cine Teatro Jandaia", com as feições que conhecemos e que agora já estão quase totalmente arruinadas. Quando daquela reforma oito edifícios vizinhos ao cine original foram sacrificados e o novo espaço de 1.200m² ganhou capacidade para 2.200 espectadores. A decoração art déco primorosa era realçada pela luminosidade colorida gerada pelos belos vitrais franceses em estilo "Art Nouveau" e pelas 2.500 lâmpadas instaladas no seu interior. O cine-teatro foi também o primeiro "arranha-céus" de Salvador.

Foto: Fundação Gregório de Mattos.
Foto: Fundação Gregório de Mattos.
Fonte: Arquitetando na Net Blogspot, 05/09/2010.
O Jandaia se tornou um dos principais pontos de entretenimento da cidade e atraía os mais renomados artistas, músicos, produções teatrais e cinematográficas, além de outros eventos diversos. Alí, no espaço de lazer considerado o mais moderno e sofisticado da América do Sul à época, apelidado "Castelo das Maravilhas", estiveram nomes como Carmem Miranda, Pablo Neruda, Raul Roulien, Guimar Novaes, Procópio Ferreira, Zoraide Aranha, Bidu Saião, Vicente Celestino e Lamartine Babo. As primeiras exibições de Glauber Rocha também acharam lugar no Jandaia.

Fonte: A Baixa dos Sapateiros em Foco Blogspot, 16/02/2008.

Foi a primeira sala de arte do Nordeste brasileiro a adquirir aparelhos para exibição de filmes sonoros. Antes, contam os mais antigos, uma pequena orquestra atrás da tela de exibição, fazia a música e sons de fundo para filmes mudos, representando suspenses, tristeza, alegria, trovões (com folhas de zinco), etc.. A orquestra também mantinha som ambiente nos intervalos de eventos e exibições.

A decadência é fruto da expansão das multinacionais cinematográficas a partir da década de 60 (século XX) e do deslocamento do comércio da cidade para outras regiões a partir da década de 70, principalmente com a novidade dos "shoppings centers". Ainda nos anos 70, a filha de João Oliveira e herdeira do espaço, Ivone Oliveira decidiu vendê-lo. A empresa Savinal S/A é a atual proprietária do Jandaia.


Fonte: Super 8 Baiano Blogspot, 03/10/2009.
Fonte: A Tarde Online, 24/10/2008.

5 comentários:

  1. Cara Ana Góis:

    É inacreditável que após dois anos da publicação de seu texto, nenhum soteropolitano tenha se dignado a postar um único comentário aqui, isso apenas denota a derrocada cultural do povo desta cidade. Sou Paulistano, radicado aqui a mais ou menos 3 anos e ontem, sem o menor conhecimento de seu belo artigo, fazendo compras no comercio popular da baixa do sapateiro deparei-me com um belo prédio, infelizmente degradado, como quase tudo de belo nesta Cidade da Bahia e apaixonei-me por suas formas e imponência...fiquei ali na rua examinando o prédio até descobrir que se tratava do Cine Jandaia. Podre e abandonado do jeito que está hoje ainda é lindo mas parece que ninguém percebe a joia ali incrustada. Infelizmente sou mais um desses caras que literalmente não tem onde cair morto, mas naquele momento permiti-me sonhar com a restauração daquele belo espaço. Tanto assim que hoje, véspera de natal, aqui estou pesquisando sobre o assunto e encontro sua bela página. Um prédio com tanta história, com tantas peculiaridades não pode ficar refém do abandono e de uma espera por uma valorização do terreno para acabar sendo demolido e dar lugar a algum prédio de apartamentos ou shopping center. Vou utilizar meu espaço nas redes sociais e sites de literatura para ao menos dar ciência às pessoas de tamanho desperdício, como tantos outros que ocorrem aqui em Soterópolis. Mas em uma cidade onde Gregório de Mattos é personagem secundário, Luís Gama é um desconhecido e Castro Alves é elevado à categoria de rei, não sei se será possível acordar o povo e as autoridades para essa perda monumental desse patrimônio espetacular.
    mais uma vez parabéns pelo belo e instrutivo texto. Jorge Linhaça

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  2. Prezado Jorge, essa é apenas uma das dezenas de construções enormes que se arruínam no nosso antigo centro, infelizmente. Vamos torcer para que num futuro próximo os poderes públicos encontrem meios de mudar esta triste realidade. Abraço!

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  3. Triste Bahia !
    Deu as costas a tudo que de belo nela existiu. Residências coloniais, palácios, praças, monumentos históricos, bairros inteiros como o comercio, Santo Antonio, Ribeira, Canela, Garcia para previlegiar os horríveis e iguais edificios de apartamentos e Shopping Centers.
    Quem sabe um dia num futuro longínquo os baianos não acordam desse sono de vulgaridade e recuperam a beleza de sua terra antiga?
    Carlos Widmer, Médico formado pela UFBa em 1961

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  4. Ao que parece o governo da Bahia resolveu desapropriar e reformar esse espaço, conforme vem sendo noticiado na mídia. É uma excelente notícia. A renovação do Jandaia pode representar um importante estímulo à renovação de toda a área em seu entorno.

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  5. Uma obra atemporal, de uma beleza, doi na alma vê-lo se despedaçando.

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