terça-feira, 25 de outubro de 2011

Teatro São João

Nem sempre funcionava o Teatro, por falta de artistas, embora fosse da preocupação da presidência da Província oferecer aos habitantes de Salvador bons espetáculos. Às vezes contratavam duas companhias, uma dramática, outra lírica. Em ocasiões menos felizes, podia o governo contratar uma companhia teatral que jamais chegava a Salvador, embora já tivesse recebido polpudas somas, através dos cônsules brasileiros na Europa.

Quando, entretanto, eram oferecidos quaisquer gêneros de espetáculos na cidade, estes mereciam bastante freqüentadores. Embora as peças apresentadas fossem péssimas traduções de comédias francesas ou dramalhões portugueses, o Teatro estava sempre repleto.O cenário e o vestuário dos atores eram dos mais pobres, mas a freqüência permanecia sempre expressiva, pois não havia muitos divertimentos, de nível intelectual ou cultural, na cidade.

Tanto Maria Graham como Wetherell são unânimes na afirmativa de que o prédio do Teatro, ou a Ópera, como o denominaram, era um belo edifício, magnificamente situado, com vista para o mar, muito confortável, tanto para os espectadores, como para os atores. As filas, de camarotes estavam bem distribuídas, tendo cada um, à sua frente, uma pequena grade. Assim os atores podiam ser vistos de qualquer parte da platéia. Existiam boas salas de espera, como as de intervalo, bem mobiliadas e iluminadas.

A indiscreta Mrs. Graham completa esse quadro com as informações adicionais de que os cavalheiros e damas esqueciam o palco (“maus atores, menos maus cantores, orquestra tolerável”) e riam, comiam doces e tomavam café, como se estivessem em suas casas. Dia acidentado esse em que Mrs. Graham escolheu para ir à Ópera: um capitão do exército, diz ela, foi preso e expulso da platéia, por ser batedor de carteiras, ou por usar de linguagem imoderada. Um dos guardas-marinha, companheiro de viagem de Mrs. Graham, teve sua espada roubada com habilidade, enquanto encostada no canto do camarote.

Anna Amélia Vieira Nascimento

NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez freguesias da cidade do Salvador: aspectos sociais e urbanos do século XIX. Salvador:EDUFBA, 2007.

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