Segundo Silva Campos (1930, p. 59), em sua Memória sôbre o Estado da Bahia, Francisco
Vicente Viana declarou que “um ano depois de se estabelecerem no sítio então
conhecido por Monte Calvário, em 1586, fabricaram os religiosos do Carmo pequena
capela na marinha da cidade”. Entretanto, o Frei Manoel Baranera Serra,
superior provincial do Convento do Carmo, apurou que “o hospício foi fundado em
terreno cedido a 31 de Janeiro de 1686 por sesmaria do governador geral Dom
Antonio Luiz de Souza Telo de Menezes, marquez das Minas, ao padre Pascoal
Durão de Carvalho, passando-o este, por sua vez, aos frades carmelitanos por
escritura pública de 26 de Janeiro de 1691. Em virtude de insistente rogos ao
soberano, que se opunha com tenacidade, e por motivos de ordem economica, á
erecção de novas casa monásticas na sua colonia americana, permitiu a carta
règia de 21 de Março de 1714 aos preditos religiosos a fabricação dum pequeno
hospício”.
Ainda com base nos registros de Frei Manoel Baranera Serra,
Silva Campos informou que poucos padres habitaram a casa de estudos e que sua
construção na verdade fez parte de uma estratégia, o aumento do número de casas
de sodalício para criação da província carmelitada da Bahia, o que se
concretizou em 22 de abril de 1720. Como a construção do hospício obstruiu o
acesso dos irmãos do Santíssimo Sacramento do Pilar à marinha de que se serviam
e facilitou a prática de contrabado, houve contenda. Os vigários do pilar alegaram
que a construção se estendeu para além do que permitia a carta règia de 21 de
Março de 1714 e se colocaram contra a permanência dos frades ás portas da sua
Matriz, pois prejudicava a celebração dos actos religiosos e assistência aos
fiéias como dantes. Em 16 de Janeiro de 1755, Dom João V, ordenou ao vice-rei
Dom Marcos de Noronha, Conde dos Arcos, a demolição do hospício. Mas, tempos
depois, a ordem foi revogada e os carmelitas ainda construiram um plano
inclinado para transporte de gêneros e artigos vindos do Reino e de seus
engenhos no Recôncavo, destinados ao consumo e uso do convento.
Silva Campos descreveu o local já transformado em casa de
negócio: “Raros são os vestígios, além da disposição intrínseca do edifício,
que nos lembram a sua passada aplicação. Onde foi o presbitério, uns restos de
pintura a óleo. As portas que davam acesso ás sacristias, mostram bonita verga
em arco de volta abatida. Numa das referidas sacristias, a do lado do
Evangelho, apontaram-me um nicho aberto na parede, no qual se venerava a imagem
de Santa Ifigenia, segundo afirmativa do meu guia. A construção é
extraordinariamente sólida, apresentando as paredes mais de quatro plamos de
espessura, e estando todo o vigamento em perfeito estado de conservação”.
Segundo ele, diversas vezes desmoroamentos da montanha ameaçaram
soterrá-lo – como em 3 de Maio de 1748, quando várias casas foram derrubadas e
a terra o invadiu até a altura das janelas – e em 1866 “já estava êle deserto
de frades, e a igreja abandonada”. Embora não soubesse quando foi transformado
em trapiche, constatou que em 1921 estava alugado à Companhia Geral Comercial
São Salvador e que em 1922, para melhorar o ganho do aluguel, os carmelitas mandaram
retirar seu sino e detruir suas torres.
SILVA CAMPOS. João da. Santo Antonio de Campo Formoso. In:
_____. Tradições Bahianas – Separata da
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia nº 56, 1930. Bahia:
Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artífices, 1930, p. 59-62.
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