O prédio número vinte e
quatro da rua do Passo, sobrado de um andar, com o frontispício revestido de
azulejos […]. Reconstruiram-no em 1889, segundo um mármore existente ao alto da
vêrga da porta […].
Mas, porque Casa das
Sete Mortes?
No tempo que se passou
o facto que vou narrar, a rua do Passo não era mais que uma trilha escassamente
habitada, marginada por espêsso matagal, de onde emergiam ramalhudas árvores. Ainda
não existia a igreja matriz e, muito menos, pois, a larga escadaria que sobe da
ladeira do Carmo.
A casa em aprêço,
várias vezes modificada no correr dos anos, era o solar de apatacado lusitano.
Mais adeante residia outro portuguez, dono de um cachorro de estimação,
sobremaneira brabo. Certa feita, ao passar com o seu molosso pêla casa do
vizinho, o animal investio furiosamente contra um escravo daquele, e o negro
defendendo-se, matou-o. Sem nenum protesto, o senhor do cadelo tornou-se á sua
morada, tomou de acerada lamina, e foi invadir a casa do patrício,
inopinadamente, esfaqueando quantos topou, sem esguardar sexo, nem idade, nem
condição. Assim, o truculento reinol perpetrou ste cruais assassínios.
Esta tradição, diz-me
J. Teixeira Barros, ouviu-a o actual locatário do prédio em lide da bôca de
velho artista, septuagenário, quando este, há anos, o reparava, dizendo saber
do caso por imformação de seus avós.
Ouçamos, agora, o que
nos conta Melo Moraes, pae, no Brazil histórico, relativamente á tradicional
casa.
No meado do século
XVIII o proprietário do sobrado estava em renhida demanda com o ajudante ás
ordens do vice-rei, o qual entendeu de pôr fim á mesma eliminando o contendor.
Uma noite, achando-se a familia a cear, os mandatários do crime entraram,
trucidando o casal e os filhos, em número de sete pessoas. Só escapou uma
mulatinha, escrava da casa, a qual se escondeu dentro do forno, ainda quente,
dele não saindo senão quando ouviu cessar todo o rumor. A voz do povo acusou
unanimamente o mencionado ajudante, o qual foi preso, mas porque não se
encontrassem provas nos autos para a sua condenação, restituiram-lhe a liberdade.
SILVA CAMPOS. João da.
Santo Antonio de Campo Formoso. In: _____. Tradições
Bahianas – Separata da Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia nº
56, 1930. Bahia: Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artífices, 1930,
p. 51-54.
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