quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

FORTE DE SÃO MARCELO

Ainda no navio, o primeiro contacto que o visitante tem com a história baiana é o Forte de São Marcelo, também chamado — do Mar. 

Longa e gloriosa a sua história, podendo ser considerado o guardião das tradições baianas. “Edificado sôbre um cabeço de rocha”, antes de existir teria sido uma trincheira avançada. Acredita-se que tenha sido  iniciado em 1623, por Diogo Mendonça Furtado, que guarnecia a cidade para a resistência aos holandeses. Sua construção causou desentendimentos entre o clero e o govêrno local, porque foram desviadas para aí quantias destinadas à construção da “Sé”. Seu batismo de fogo mais sério teria acontEcido antes de concluído, em 1624, quando tomado de assalto por Pieter Hein, cabo-de-guerra holandês, apelidado “o terror dos mares”. Nessa época, testemunhou curiosa festança dos holandeses, que, tomados de pileque carnavalesco, no auge da alegria, bombardearam as encostas da cidade. Porém, em maio de 1638, vingou-se da afronta com a saída de Nassau da Bahia, “com seus navios em silêncio”. Entretanto, recentemente, o historiador Luiz Monteiro afirmou em tese de concurso que, nessa época, o São Marcelo não existia como praça armada.

Quase duzentos anos depois, os tripulantes dos barcos de João das Botas, vindos da Ilha de Itaparica, nêle arvoraram a bandeira da liberdade.

A história, todavia, não termina aí. Em 1833, os idealistas da Federação dos Guanais nêle estiveram presos e conseguiram forçar a guarnição a aderir ao movimento, hasteando bandeira e bombardeando a cidade. Não sòmente êsses revolucionários conheceu, mas também Sabino Vieira, Bento Conçalves, o patriota Cipriano Barata — “o homem de tôdas as revoluções” — e os líderes e heróis anônimos da insurreição dos negros malês.

Mas sua missão não foi sômente guerreira: viveu também em função pacífica para a cidade. Era êle que disparava salvas de cortesia na tradicional procissão do Senhor dos Navegantes; anunciava os incêndios marítimos, era um relógio da cidade, mas foi também prisão de estudantes que desatendiam os professôres. No interior, além dos compartimentos indispensáveis numa praça forte, possuía árvores frutíferas, havendo mesmo românticos que cultivavam jasmineiros de Caiena...


E hoje, depois de tantos séculos, depois de assistir a guerras e revoltas, depois de seus canhões terem lançado fogo em defesa da cidade, o São Marcelo foi novamente chamado a ocupar o antigo pôsto. De forte tranqüilo — “adôrno do ancoradouro” — servindo de sede aos escoteiros do mar, com seus velhos canhões, sinal de um passado glorioso, dormindo sôbre os louros de vitórias, serviu na última guerra como aquartelamento aos marinheiros nacionais antifascistas.

Darwin Brandão & Motta Silva. Cidade do Salvador – caminho do encantamento. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, p. 7-8.



























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