quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Itapuã e a lagoa encantada do Abaeté

Abaeté tem uma lagoa escura
Arrodeada de areia branca.
DORIVAI. CAYMMI

Desde que Caymmi fêz um samba falando de seus coqueiros, de suas areias e de suas morenas, Itapoã ficou conhecida e invejada em todo o país. Assim, aquêle que chega à Cidade do Salvador sente uma vontade irresistível de vê-la. E nunca fica decepcionado, porque Itapoã é mais do que se possa imaginar. Seu nome significa, em língua indígena, pedra erguida. Em 1813 era uma vila e assistiu a uma sublevação de negros escravos, que atacaram e destruíram as armações, matando opressores.

Pouco adiante de Itapoã fica o Abaeté, “uma lagoa escura arrodeada de areia branca” como a espuma do mar. E todo um planalto de areias ondulantes, onde os pés se perdem pedindo não caminhar, sem vontade de seguir, e sòmente fica ali deitado, contemplando o descanso do céu. Abaeté, nome tupi, quer dizer homem verdadeiro, homem forte, homem de bem.

A lagoa é deserta: nem homens nem barcos. O Abaeté tem uma lenda, uma lenda de assombrações; Janaína habita suas margens e, à noite, sobe das águas escuras e mansas da lagoa um rumor de atabaques e de cânticos nostálgicos. E todos têm mêdo de se banhar nas águas misteriosas. Janaína se apaixona dos homens e os leva para o fundo do desconhecido. Ali também mora o Caboclo Abaeté; sua loca está na margem da lagoa, junto das águas escuras e perto de uma árvore frondosa, onde negros morreram lutando pela igualdade. A lenda da lagoa, sua concorrência diária, atraiu vendeiros. E com os vendeiros, Abaeté vai perdendo seus encantos naturais e seus mistérios vão sendo profanados.

Darwin Brandão & Motta Silva. Cidade do Salvador – caminho do encantamento. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, p. 212.





























  









Nenhum comentário:

Postar um comentário