Abaeté tem uma lagoa
escura
Arrodeada de areia
branca.
DORIVAI. CAYMMI
Desde que Caymmi fêz um samba falando de seus coqueiros, de suas areias e de suas morenas, Itapoã
ficou conhecida e invejada em todo o país. Assim, aquêle que chega à Cidade do
Salvador sente uma vontade irresistível de vê-la. E nunca fica decepcionado,
porque Itapoã é mais do que se possa imaginar. Seu nome significa, em língua
indígena, pedra erguida. Em 1813 era uma vila e assistiu a uma sublevação de negros
escravos, que atacaram e destruíram as armações, matando opressores.
Pouco adiante de
Itapoã fica o Abaeté, “uma lagoa escura arrodeada de areia branca” como a
espuma do mar. E todo um planalto de areias ondulantes, onde os pés se perdem
pedindo não caminhar, sem vontade de seguir, e sòmente fica ali deitado,
contemplando o descanso do céu. Abaeté, nome tupi, quer dizer homem verdadeiro,
homem forte, homem de bem.
A lagoa é deserta: nem
homens nem barcos. O Abaeté tem uma lenda, uma lenda de assombrações; Janaína
habita suas margens e, à noite, sobe das águas escuras e mansas da lagoa um
rumor de atabaques e de cânticos nostálgicos. E todos têm mêdo de se banhar nas
águas misteriosas. Janaína se apaixona dos homens e os leva para o fundo do
desconhecido. Ali também mora o Caboclo Abaeté; sua loca está na margem da
lagoa, junto das águas escuras e perto de uma árvore frondosa, onde negros
morreram lutando pela igualdade. A lenda da lagoa, sua concorrência diária,
atraiu vendeiros. E com os vendeiros, Abaeté vai perdendo seus encantos
naturais e seus mistérios vão sendo profanados.
Darwin Brandão & Motta Silva. Cidade do Salvador – caminho do encantamento. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1958, p. 212.
Nenhum comentário:
Postar um comentário