terça-feira, 2 de agosto de 2011

Rua Direita do Palácio (atual Rua Chile)


Os textos a seguir retirei do encarte na foto:


Joaquim Grulha, um português que vivia sempre embriagado, era um dos mercadores da rua original com a sua loja de tabacos instalada naquela que seria a futura cocheira do Palácio dos Governadores, hoje portão de acesso para a biblioteca da Fundação Pedro Calmon. 

No século XVII (1624) os mercadores evacuavam a rua dias antes dos invasores holandeses se empenharem no saque par mostrar serviço à Companhia das Índias Ocidentais.

Muitos anos depois (1808) Dom João VI desfilava a caminho do Palácio, ritual que seu neto Dom Pedro II repetiria em 1859 quando de sua visita à Bahia. No seu diário de viagem Dom Pedro descrevia como “ruas estreitas e enlameadas” o trecho entre a Praça do Teatro (hoje Castro Alves) e a Igreja da Sé. 

Em 1878 ali instalava-se o Grêmio Literário da Bahia em cujos salões nascia a Faculdade de Direito (1891) e mais tarde o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (1894).

Os acontecimentos políticos em torno da sucessão de Araújo Pinho (1912) transformaram a Rua Chile em palco de guerra. O Bombardeio de 10 de janeiro incendiava os prédios Nºs. 23 e 25 e danificava o telhado da Pastelaria Triunfo atingido por uma bala. J. J. Seabra redimia-se do episódio alargando a rua e promovendo melhoramentos (1915).


A Rua Chile e a esquadra Chilena (origem do nome)

Texto retirado do encarte abaixo:


Durante 14 dias (julho/1902) a esquadra chilena, a época a terceira maior marinha de guerra do mundo, recebeu as honras dos baianos. O desfile apoteótico pela, então, Rua Direita do Palácio e a calorosa recepção dos soteropolitanos sinalizava as autoridades para conveniência de se batizar como Rua Chile a rua que antes fora dos Mercadores e das Portas de Santa Luzia. E num passado distante, trilha do lugar sugerido por Caramuru a Thomé de Souza para executar o projeto de sete ruas de Miguel de Arruda, realizado a contento pelo arquiteto Luiz Diaz.



Todas os ilustres que vinham a Salvador desfilavam pela Chile, como o príncipe italiano Umberto de Savoia, a Miss Brasil Martha Rocha, Pelé, Garrincha e outros. A passagem dos desfiles do "Dois de Julho" e do "Carnaval pela Rua também eram marcantes.

Arquivo Nelson Cadena, Desfile do príncipe italiano Umberto de Savoia
Desfile do "Dois de Julho". Fundação Gregório de Mattos.

Fund Gregório de Mattos, Corso carnavalesco - déc 40

Rua Chile - A rua que ditava moda (primeira metade do século XX)

Os textos a seguir retirei do encarte na foto:


Doravante a Rua Chile seria centro da moda e da paquera, dos corsos carnavalescos e do exibicionismo no fim da tarde. A Rua da Casa Sloper, Duas Américas, Sapatos Clark, Loja Mottau, Casa Harley, Alfaiataria Londres, Au Louvre, Lojas Stella, A Perola, Chapelaria Mercuri, Casa Milano, A moda, Casa Atlas, Joalheria de Biagio Rotondano, Royal Palace...
[...]
Mortificados com os sapatos de bico, tão em voga em inícios do século, os baianos recorriam a Miss Emma Herisson, no seu consultório da Rua Chile , 38, para limar os calos que a etiqueta favorecia nesses tempos de fina moda como afirmação da personalidade. Os baianos tratavam os calos com o mesmo zelo com que jogavam prosa nas 'pastelarias', nome genérico da época para os Café-Bar, pontos de encontro como a pastelaria Pepe £ Irmãos da Rua Chile, 18.

Na Rua Chile podia-se tomar as aulas de Piano da Casa Schleier, ministradas pela célebre pianista Luiza Leonardo, mulher do Sílio Boccanera, historiador, jornalista e crítico teatral. Ou encomendar um retrato do afamado Pintor Manoel Lopez Rodrigues que também vendia matéria prima para a arte em sua loja-atelier da Rua Chile, 25. Intelectuais da época reuniam-se no Grêmio Literário da Rua Chile, 28, a vinte metros de onde Simões Filho instalava em 1904 a redação de 'O Papão'.

O Restaurante Manoel Alvarenga era o ponto de encontro destes e outros personagens que se abasteciam de cultura na Livraria Magalhães, sempre atenta aos últimos lançamentos para atender a seleta freguesia. Esta, vizinha da Farmácia Pasteur do jornalista e político Raymundo Bizarria, ex-redator chefe de 'O Faísca', periódico abolicionista ilustrado que fez época na terrinha. Na Chile os baianos marcavam consultas com advogados, dentistas e médicos, como o Dr. Aristides Maltez.

Mas era a moda que pautava a freqüência dos mais exigentes. Os baianos que adquiriam chapéus nas Lojas Mottau ou na Chapelaria Mercuri, luvas na loja de Adolfo Malbouisson, sapatos nas Lojas Clark, Calçados Buffoni ou nas lojas Stella. Que nem as senhoras que se rendiam às promoções de espartilhos, coletes, golas, meias, adornos e blusas da Casa Sloper, filial da afamada Casa Americana do mesmo nome.

O rádio baiano começou na Rua Chile. Em 1924 a Rádio Sociedade reunia autoridades e associados para a inauguração solene da emissora no Palacete de Giovano Mercuri (bisavô de Daniela Mercury).
[...]
Florinda, 'a mulher de roxo', vestia-se de freira, noiva e de veludo roxo no escaldante verão baiano. Pedia esmolas nas imediações da Casa Sloper. Durante mais de 30 anos um personagem marcante da rua.
[...]
A Loja Duas Américas. Em 1958 foi o primeiro estabelecimento comercial da cidade a ter uma escada rolante. Em 1977 o magazine era devorado pelo fogo.

Arquivo Nelson Cadena
Foi um grande acontecimento a inauguração das primeiras escadas rolantes de Salvador na Loja Duas Américas.

A Casa Sloper foi dos magazines de moda da Chile o de maior longevidade: quase 90 anos servindo os baianos.




Royal Palace (1918) loja da Chile que vendia jarros e porcelanas chinesas, bibelots, bronzes e prataria."


Bahia Illustrada, 1918.
Bahia Illustrada, 1918.
Bahia Illustrada, 1918.

Rua Chile - Anos 50

Temos um interessante panorama da Rua Chile nos anos 50 (século XX) através dos relatos da Museóloga Ana Maria Carvalho de Azevedo:


Chegamos, finalmente, à rua Chile, das lojas mais elegantes, freqüentadas pela boa sociedade e onde se encontravam os mais finos artigos e também, é claro, os últimos lançamentos da moda. Logo no início, à esquerda, havia uma lanchonete, “A Gruta de Lourdes”. Era a penas um corredor largo, onde se lanchava, de pé junto ao balcão, o melhor pãozinho da cidade.

A Casa Clark era uma sapataria onde nós comprávamos os sapatos escolares. Todo início de ano fazíamos essa visita obrigatória para levar um sapato preto de pelica, com pulseira, para não sair do pé, e muito forte para agüentar as traquinagens de um ano inteiro. Em seguida ficava a Livraria Civilização Brasileira, que se acabou num grande incêndio.

Bahia Illustrada, 1918.

Arquivo Nelson Cadena

A Casa Sloper, um sonho de coisas lindas, sempre com as novidades em bijouterias, bolsas, sapatos, vendia também vestuário para senhoras e crianças, além de roupas de cama e mesa, artigos para presentes e perfumaria. O que mais me encantava era uma seção de beleza onde uma especialista, rodeada de frascos contendo vários tons de pó-de-arroz, misturava-os, de acordo com a tonalidade da pele da cliente. Uma coisa finíssima e muito chic!



Arquivo Nelson Cadena

A Etam, uma loja de artigos femininos, lingerie e vestidos lindos, ao estilo americano, que era a moda da época. A gerente, uma estrangeira de sotaque carregado, tinha um sistema de controle muito original, com muitas etiquetas coladas numas folhas de papel. Tudo isso, numa época em que não se precisava correr como hoje, era motivo de distração.

A Loja Duas Américas era um verdadeiro magazine, onde se encontravam todos os tipos de mercadoria. No andar térreo ficavam os tecidos e os vendedores colocavam cadeiras junto ao balcão, para o conforto dos clientes, se a compra era mais demorada. Nos outros andares estavam os artigos infantis, bolsas e sapatos, cama e mesa, decoração e a sua atração principal que era a elegante sala de chá; que funcionava no seu último andar. Na década de 50 era o lugar mais fino e bem freqüentado da cidade. Era um local agradável, onde se podia tomar um lanche requintado, encontrar amigos e ainda assistir às atrações locais. Foi a primeira loja a instalar escada rolante, do térreo para o primeiro andar, e com isso nos equiparamos ao Rio de Janeiro e São Paulo.

Bahia Illustrada, 1918.


Na Casa da Música se encontravam partituras e instrumentos musicais, radiolas, artigos para presente em prata, cristal e louça, bolsas de festa, as “trousses” e todas as tardes havia um pianista tocando para os clientes; no 2º andar estavam os discos e diversas cabines para o cliente ouvir o disco escolhido e ver se estava em boas condições, além de lingerie para senhoras; no 3º andar ficavam os brinquedos.

Outras Lojas como A Nova América, Casa Africana, Sapataria Elite, Chapelaria Baiana, Farmácia Chile, Casa Alberto, Ótica Baiana, A Moda, Confeitaria Chile faziam parte desse percurso tão encantador.

Para se ir à Rua Chile era preciso uma preparação em grande estilo. Vestidos de passeio, sapatos de salto e meias de seda, com a costura bem certinha. As garotas usavam vestidos de corpo cintado e saias amplas, armadas pelas anáguas cuidadosamente engomadas. Esses modelos eram copiados dos filmes americanos e do figurino “Lana Lobell”, não se podia seque imaginar vestir uma calça comprida. As jovens usavam cabelos presos em “rabo-de-cavalo” ou no corte da época “taradinha”. Quando se ia à sala de chá, usavam-se até luvas. Antes dos 15 anos as meninas não usavam salto nem batom.

Os rapazes geralmente usavam calça de gabardine ou tropical e camisa esporte, nas padronagens masculinas, sempre em cores sérias; calça jeans e camisas de qualquer cor não estavam ainda em moda; tênis, nem pensar. Os cabelos eram no corte “maracanã”, ou ainda penteados com brilhantina. 

Os rapazes ficavam conversando nos passeios ao longo da rua e as moças passavam de uma loja para outra. Era a oportunidade de namorados ou amigos se encontrarem, ou então somente fazer parte do eterno jogo do flerte, atual paquera.

No passeio ao lado do Palácio Rio Branco ficavam os mais velhos, conversando sobre negócios e aproveitando para olhar as moças e dirigir-lhes galanteios. Às vezes, recebiam respostas desaforadas como “Quem gosta de velho é reumatismo”. Também ficava um fotógrafo “lambe-lambe” que ia registrando instantâneos transeuntes.

 Já no final da rua, chega-se à Praça Municipal com a Sorveteria Cubana, que ainda hoje funciona na entrada do Elevador Lacerda. Na época possuía mesas e cadeiras por toda a extensão das calçadas que dão para a maravilhosa Baía de Todos os Santos. Essa sorveteria fazia parte do final de uma tarde de compras ou de uma seção de cinema aos domingos. O “milk-shake” com bolinhos e o “dust-miller” eram os melhores da cidade e também uma oportunidade de encontro para a juventude. 

No térreo do Hotel Palace, dando para a rua da Ajuda e rua Chile, encontra-se a loja Adamastor, que resiste até hoje. Na década de 50, era uma das melhores em artigos masculinos e tinha o que havia de mais moderno para os rapazes. O Hotel Palace também tinha uma sala de chá, na qual houve um comentado crime: um rapaz que era muito arruaceiro e já vinha ameaçando um outro, nessa tarde se encontram e o desacato acabou com a morte do agressor e o que atirou não foi condenado, porque alegou legítima defesa. 




Rua da Ajuda - Anos 50

"Na Rua da Ajuda havia o célebre alfaiate Spinelli, que tinha por slogan “Adão não se vestia porque Spinelli não existia”; no mesmo prédio existia uma livraria, cujo proprietário, Argeu Costa, foi assassinado, enquanto trabalhava à noite; esse crime nunca foi desvendado. Nessa rua havia vários consultórios médicos, além de alguns armarinhos, livrarias e a mais maravilhosa casa de chocolates, a Kopenhagen." 

Ana Maria Carvalho de Azevedo. 
Museóloga. Setor de Pesquisa e Documentação do Museu Carlos Costa Pinto. 

Rua Rui Barbosa - Anos 50

"O seu principal atrativo era o Cinema Glória, atual Cine Tamoio. No Cinema Glória, íamos às matinés e assistíamos aos sucessos de Hollywood e da Atlântida, com os inesquecíveis Oscarito e Grande Otelo. Nos intervalos, havia fundo musical e “Cubanacã” era sua marca registrada." 

Ana Maria Carvalho de Azevedo. 
Museóloga. Setor de Pesquisa e Documentação do Museu Carlos Costa Pinto.
           
          

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Baixa dos Sapateiros (J. J. Seabra), Ladeira da Praça, Ladeira de São Francisco, Praça dos Veteranos, Gravatá


Ladeira da Praça antes do alargamento. Foto: Heraldo Lago Ribeiro.



1902

1930
quartelbarroquinha www.pm.ba.gov.br



1979. Acervo PMS.
2012





Solar Felipe de Oliveira Mendes (Casa de Angola)
Solar do Gravatá 

Hospital Santa Isabel

A bela construção em estilo neoclássico (século XIX) é obra da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, para transferência do hospital que funcionou em sua sede, à Rua da Misericórdia, de 1549 até 1833, quando foi absorvido pelo Hospital Real Militar, no Terreiro de Jesus. Começou a ser erguido em 1828, sendo inaugurado somente em 30 de julho de 1893, pelo Governador Manuel de Souza Campo. 




Mouraria

A chegada dos mouros em Salvador aconteceu no século XVI, quando o então rei de Portugal, D. João III, com o forte argumento da inquisição, expulsou mouros e judeus para o novo continente. 

Chegando a Salvador, os chamados infiéis foram colocados estrategicamente num local que não estava muito próximo do centro urbano, mas que permitia que esses exilados pudessem ser vigiados. Os mouros foram levados então para o Alto das Palmas, que mais tarde passou a se chamar Mouraria.

O tempo foi passando e os mouros terminaram por se integrar à rotina da capital da província. No entanto, a chegada da inquisição ao Brasil, entre os anos de 1591 e 1618, fez com que os árabes escondessem seus hábitos e costumes em nome da sobrevivência. 

Segundo Cid Teixeira, a pressão para que os árabes fossem perseguidos e mortos era tamanha que mesmo aqueles convertidos eram vigiados atentamente e, sob quaisquer suspeitas de práticas do “culto herético”, eles eram presos, torturados e mortos. Os inquisidores – instruídos pelo livro do Monitório do Inquisidor Geral – observavam atentamente aqueles que não tomavam vinho, não comiam toucinho, guardavam as sextas-feiras e mantinham casamento poligâmico. 'Estes aspectos eram mais que suficientes para condenar toda família. Logo, os que não se converteram, terminaram fugindo do Brasil, afirma Cid Teixeira.

O retorno dos árabes ao Brasil e a Salvador aconteceu no século XIX, quando a situação econômica do Brasil já havia melhorado e as oportunidades eram maiores. Um século depois, o local escolhido pelos mouros para estabelecer residência foi o Terreiro de Jesus e o Pelourinho. 

Carmen Vasconcelos
Correio da Bahia – 09/01/99, pág. 10 – Aqui Salvador.
Quartel da Mouraria.
A primeira cidade do Brasil. Alberto Silva.