terça-feira, 31 de março de 2015

Américo Simas Filho: sobre o "Urbanismo Demolidor"

A destruição assistemática teve início no ultimo quartel do século XIX, quando a Praça Municipal, Centro Administrativo desde 1549, ano de fundação da Cidade do Salvador, foi completamente alterada, a saber: 

  1. Pela demolição dos edifícios da Casa da Relação e da Casa da Moeda, o primeiro ao fundo, onde hoje se acha o Elevador Lacerda e a Casa da Moeda onde até pouco estavam a Biblioteca Pública e a Imprensa Oficial.
  2. Pela transformação por que passou o Frontispício da Casa de Câmara e Cadeia, com a reforma Caminhoá, desfigurando totalmente a sua sóbria e digna fachada Colonial, só recentemente refeita e, mesmo assim, parcialmente, tais os estragos da citada reforma. 
  3. Por fim, mas não menos danoso,  as modificações que se iniciaram na posição e estrutura do Palácio dos Vice Reis, onde agora se acha o infeliz Palácio Rio Branco. 

O combate sistemático, sob a invocação de “Melhoramentos Urbanos” foi realizado no primeiro quartel do século atual, sobretudo de 1912 a 1920, quando as intervenções no tradicional Centro Administrativo – Praça Municipal – Centro Cultural – Terreiro de Jesus – foram projetadas e aprovadas pelas autoridades competentes, mas executadas só em parte, pela falta de recursos financeiros, daí resultando a salvação de alguns monumentos notáveis, alguns temporariamente – a Sé, por exemplo e outros definitivamente – o Palácio Arquiepiscopal junto à Sé ambos condenados se os recursos financeiros disponíveis permitissem a plena execução dos projetos aludidos. 

Era o Urbanismo Demolidor que pretendia desenhar a cidade em função do veículo automotor que surgia. Entre os delitos mais importantes cometidos contra os Bens Culturais da Cidade do Salvador, basta citar as demolições das igrejas da Ajuda e de São Pedro e os magníficos exemplares da arquitetura civil então existentes nas ruas da Misericórdia, Ladeira da Praça, Rua Chile e outros locais. 

Na ocasião, em verdade, não foram esses monumentos os alvos visados, pois faziam parte de conjuntos que deveriam ser arrasados para dar vazão à falsa idéia de progresso então vigente, segundo a ótica dos administradores da época. Todavia, eram justamente esses conjuntos, como se reconhece hoje facilmente que, com sua forma e cor caracterizavam a área. Assim, trechos construídos em séculos eram amputados em anos, ao sabor de experiências urbanísticas sem qualquer fundamentação racional. 

Américo Simas Filho, Revista de Cultura da Bahia, 1976, p. 6-7.

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