Os portugueses estabeleceram no Brasil, quasi intacto, o mundo que haviam criado na Europa. A melhor comprovação oferece a cidade da Bahia em si mesma. Em quase 215 anos, de 1549 a 1763, durante os quais gozou do privilégio de ser a primeira metrópole lusitana no novo mundo, tornou-se a Bahia uma réplica fidelíssima de Lisboa e do Porto, as duas melhores cidades de Portugal.
Isto é verdade, não só em relação aos seus edifícios, mas principalmente, à sua localização e à maneira pela qual aí se desenvolveu. Como Lisboa e o Porto, de acordo com o uso português, a Bahia foi fundada sobre uma escarpa alta, dominando longa extensão de água. A exemplo de ambas, para defesa, foi cercada de muros com tôrres e portas entremeiadas com fortes. Os melhores sítios, o alto das colinas, como em Portugal foram reservados às igrejas e conventos, aos edifícios públicos e solares, ao passo que o comércio funcionava em baixo, ao longo do cais. Havia assim, duas cidades, uma alta e outra baixa, existindo na Bahia como na terra-mãe o problema constante da comunicação. Esta fazia-se por uma serie de caminhos tortuosos, tão estreitos e íngremes que o tráfego de veículos era quasi impossível. Situação tão incoveniente era praticamente desconhecida neste hemisfério fora do Brasil, sendo necessário ir a Quebec, no Canadá francês, para encontrar-se outra semelhante, segundo a observação de um dos primeiros viajantes, pois as duas outras grandes potências colonizadoras do continente, espanhóis e ingleses, procuravam situar as suas cidades em lugares planos onde poderiam expandir-se ilimitadamente e de maneira ordenada.
A ordem era ignorada pelos portugueses como assinalavam deliciados os viajantes. As suas ruas, ironicamente chamadas “direitas”, eram tortas e cheias de altibaixos, as saus praças de ordinário irregulares. As casas agarravam-se às vertentes alcantiladas das colinas em torno de uma teia de caminhos escuros, escadas e passadiços, tendo os andares superiores salientes, como na Europa. Desta sorte, em 1763, quando deixou de ser a capital do Brasil, era a Bahia uma cidade tão medieval quanto Lisboa na véspera das grandes reformas de Pombal. Nada inventaram os portugueses no planejamento de cidades em países novos. Ao contrário, dos espanhóis, que eram instruídos por lei a executar um gradeado regular de ruas que se entrecruzam em torno de uma praça central, os portugueses não mantinham regras, exceto a antiga, de defesa através da altura. Suas cidades cresceram pela vinculação gradual de núcleos isolados, formados pela fundação incividual e arbitrária de capelas, casas ou mercados. A posição destes edifícios ditava as trajetórias irregulares seguidas pelas ruas que os uniam.
Salvador. |
Isto é verdade, não só em relação aos seus edifícios, mas principalmente, à sua localização e à maneira pela qual aí se desenvolveu. Como Lisboa e o Porto, de acordo com o uso português, a Bahia foi fundada sobre uma escarpa alta, dominando longa extensão de água. A exemplo de ambas, para defesa, foi cercada de muros com tôrres e portas entremeiadas com fortes. Os melhores sítios, o alto das colinas, como em Portugal foram reservados às igrejas e conventos, aos edifícios públicos e solares, ao passo que o comércio funcionava em baixo, ao longo do cais. Havia assim, duas cidades, uma alta e outra baixa, existindo na Bahia como na terra-mãe o problema constante da comunicação. Esta fazia-se por uma serie de caminhos tortuosos, tão estreitos e íngremes que o tráfego de veículos era quasi impossível. Situação tão incoveniente era praticamente desconhecida neste hemisfério fora do Brasil, sendo necessário ir a Quebec, no Canadá francês, para encontrar-se outra semelhante, segundo a observação de um dos primeiros viajantes, pois as duas outras grandes potências colonizadoras do continente, espanhóis e ingleses, procuravam situar as suas cidades em lugares planos onde poderiam expandir-se ilimitadamente e de maneira ordenada.
Salvador. Foto: José Carlos Almeida, 1998. |
A ordem era ignorada pelos portugueses como assinalavam deliciados os viajantes. As suas ruas, ironicamente chamadas “direitas”, eram tortas e cheias de altibaixos, as saus praças de ordinário irregulares. As casas agarravam-se às vertentes alcantiladas das colinas em torno de uma teia de caminhos escuros, escadas e passadiços, tendo os andares superiores salientes, como na Europa. Desta sorte, em 1763, quando deixou de ser a capital do Brasil, era a Bahia uma cidade tão medieval quanto Lisboa na véspera das grandes reformas de Pombal. Nada inventaram os portugueses no planejamento de cidades em países novos. Ao contrário, dos espanhóis, que eram instruídos por lei a executar um gradeado regular de ruas que se entrecruzam em torno de uma praça central, os portugueses não mantinham regras, exceto a antiga, de defesa através da altura. Suas cidades cresceram pela vinculação gradual de núcleos isolados, formados pela fundação incividual e arbitrária de capelas, casas ou mercados. A posição destes edifícios ditava as trajetórias irregulares seguidas pelas ruas que os uniam.
A cidade baixa da Bahia, como a do Porto, é estreita, pois ha pouco espaço entre colina e a água. Por isso as casas são mais elevadas que na cidade alta e, mesmo no século XVIII, elas se estendiam em fileira delgada e estreita, como as da Junqueira em Lisbôa, em direção da península de Itapagipe. No meio da área central atravancada de docas e mercados, localizam-se as grandes rampas de subida, de inclinação acentuada, cortando em diagonal a face da escarpa, exatamente como no Porto e Lisbôa. No alto ficavam as portas de s; Bento, a extremidade sul da cidade alta. D’aí, a rua principal desta parte da Bahia seguia para o norte, numa serie de altos e baixos, interrompida por três espaços abertos no coração da cidade alta. O primeiro, centro da autoridade civil, continha o Palácio dos Governadores, a Câmara e Cadeia, a Relação e a Casa da Moeda, versão pequena da disposição do Terreiro do Paço de Lisbôa. Depois, precedida pela Misericórdia e bloqueando a rua, ficava a Catedral com o seu adro dominando a baía, ocupando posição quasi idêntica à das catedrais de Lisbôa e do Porto. Mais adiante, vinha o longo Terreiro de Jesus, o Rocío da Bahia, dominado pela igreja dos jesuítas e rodeado de outras. Aqui, a rua desce rapidamente, subindo de novo de modo abrupto para onde ficavam as portas do Carmo pois a Bahia, diferente das cidades da América espanhola, ficava encerrada em muralhas fortificadas. Além deste ponto, limite norte da cidade velha, o caminho vagueia para diante entre tôrres de igrejas e telhados pitorescos, como as ruas da Lisbôa antiga que seguem incertas pelas lombadas da Alfama. Esta é a classica mise-en-scêne luso-bxasileira, o fundo dramático da arquitetura primitiva. Encontra-se também em Olinda, no Rio de Janeiro e nas cidades posteriores de Minas Gerais, porém somente na Bahia o padrão foi tão plenamente desenvolvido.
Robert C. Smith
Robert C. Smith
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