Salvador era uma cidade comercial, desde os primeiros séculos da colonização. Nas freguesias da Cidade Baixa existiam muitas lojas de fazendas, miudezas, ferragens, peças para embarcações, drogas, armazéns de molhados, e os conhecidos Cobertos eram lugares de muito comércio, especialmente de venda de quinquilharias. Trapiches existiam para a mercância de ir e vir. Recebiam os produtos da terra, destinados a exportação: açúcar, fumo, algodão, aguardente, couros, madeiras, piaçava, e os que se importavam, como os vinhos, os azeites, os vinagres, a farinha do reino, o bacalhau. A Alfândega Geral ficava na freguesia da Conceição da Praia, com todos os funcionários indispensáveis à inspeção das mercadorias. Ainda na mesma freguesia; o Arsenal, a Ribeira das Naus, com o construtor de embarcações e oficinas necessárias; o estaleiro para a feitura das naus e fragatas, e um outro menor para as corvetas e brigues de guerra. A Praça do Comércio, dando para o mar, era edifício de respeitáveis dimensões e dos mais luxuosos da cidade, poder-se-ia nele encontrar uma sala para escrituração, a serviço dos negociantes, recinto para leilões, e, o armazém de arrecadação. Neste mesmo edifício, estavam os escritórios de três companhias de seguros: Boa Fé, Conceito Público e Comércio Marítimo.
Na Praça de SãoJosé ,junto da igreja de Santa Bárbara, havia feira do pescado, assim como no Cais Dourado estavam expostos à venda os frutos da terra, produtos de abastecimento trazidos através da baía.
No Pilar, existiam os armazéns para a arrecadação do açúcar e quatro prensas de algodão. Nessa freguesia estavam estabelecidos os maiores comerciantes em grosso da praça da cidade. Ali, na verdade, se concentravam os graves e sólidos comerciantes portugueses que haviam chegado ao Brasil, como imigrantes, depois da Independência, e aqui fizeram fortuna. Na Calçada do Bonfim, quarteirão pertencente à mesma freguesia, residiam os mais ricos desses lusitanos. Outros, contudo, preferiam morar vizinhos ou, mesmo, sobre as suas casas de negócios, hábito peculiar desse povo, não dando importância ao desconforto que ocasionavam às suas famílias, habitar tão próximos de trapiches e armazéns, nem ao odor que emanava das diversas mercadorias com que transacionavam.
Na Penha, existiam estaleiros para a construção de grandes embarcações ou de fragatas. No sítio do Papagaio encontravam-se os alambiques para destilar a cachaça, e numerosos lugares onde se encontrava o pescado. No porto do Bonfim havia uma fábrica de vidros, e nessa freguesia, durante o século XIX, instalaram-se algumas das primeiras fábricas de tecidos. Na Ribeira de Itapajipe, o povo podia atravessar em barca, de um lado para o outro, procurando a terra firme dos subúrbios, sendo animais também aceitos nesse precário meio de transporte. À Penha dirigiam-se os romeiros em busca da capela do Bonfim, demonstrando sua devoção nas esmolas generosas, cera e azeite, contribuindo para o patrimônio da igreja. Junto a esta surgiram as casas dos romeiros, todas iguais, que lhes serviam de agasalho, no tempo que passavam em local longínquo da cidade.
Anna Amélia Vieira Nascimento
NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira. Dez freguesias da cidade do Salvador: aspectos sociais e urbanos do século XIX. Salvador:EDUFBA, 2007.
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