terça-feira, 3 de abril de 2012

Luis Tarquinio, o "Empório Industrial do Norte" e a "Cidade do Trabalho".

Luís Tarquínio

Quando – com a imparcialidade devida – se escrever a história do operariado da Bahia que o fará?... ou se tratar dos grandes surtos industriaes, figurando naquella, em seus logares próprios, destacados pela sua actuação, pelo seu critério, as individualidades que lhe serviram, a esse operariado que até hoje, não obstante tanta promessa, tantas Associações, não teve ainda a proteção necessária – um nome apparecerà como exemplo, se apontarà como estimulo, se dirá com orgulho: – LUIZ TARQUINIO.

Junto a esse nome a sua obra. Extraordinaria. Immorredoura. “No gênero, a mais grandiosa da America do Sul”, que são a Fabrica e a Villa Operaria, da Companhia Emporio Industrial do Norte.
Monumento portentoso, atestado de hercúlea força de vontade, prova de amor áquelles cuja riqueza única é o trabalho.


Verá quem ler aquella historia, como grande parte da família operaria bahiana teve um verdadeiro amigo, um grande benfeitor, porem benfeitor e amigo muito dissemelhante a quantos se lhe têm inculcado, acenando-lhe com promessas de futuro feliz e de liberdade ampla, e as quaes jamais se realizam, tanto mais se o período não é de eleições.

Chorarà então o eperariado a falta desse homem, como o pranteam todos os que foram seus trabalhadores, porque o queriam, porque o idolatravam, porque compreendiam da pureza de suas intenções.

Fonte: patrimonioindustrialbrasil.blogspot.com.br

“Veio das camadas humildes da sociedade, e tudo conquistou – até a imortalidade do nome – por esforço próprio, exclusivamente próprio”.

Mais um anniversario de nascimento dessa individualidade – um dos “vultos inconfundives” da historia, “padrão de atividade constructora visando um Brasil melhor”, na Bahia “um símile de Mauá” –, passou há pouco, e quantos restam daquela multidão que Luiz Tarquinio amparou, guiou, auxiliou, por certo que sentiram constranger-se-lhe o coração de saudade.

“Luiz Tarquinio, que prematuramente sucumbiu em plena florescência da sua madureza gloriosa, em 1902, foi o empreendedor que em S. Salvador melhor compreendeu as necessidades do operário”.

Era de uma actividade assombrosa. Rapido golpe de vista. Certeza na resposta. Multas vezes viram-n’o trabalhar com os serventes, na construcção da fabrica e pela madrugada fiscalizando o serviço dos vigias. Raro repreendia com aspereza. Mas, si no mesmo momento voltasse o culpado para pedir-lhe um favor, elle era o homem bom.

0 seu afan era para ver promptas a fabrica e villa. A officina e o lar.



Em seu cerebro passavam as mais bellas scenas que se iriam dosenrolar entre as familias amparadas que alli se abrigariam. Delineava como deviam ser aquelles logares onde faria existirem o conforto e a distracção.

Via as creanças correndo pelo parque nos dias de folga, via-as em caminho da Escola.

E sorria. Depois passava o olhar por sobre os alicerces que subiam.


Havia satisfação de quantos trabalhavam na presença delle. Ninguem se atemorisava, porque elle era bom, ninguém faltava ao cumprimento do dever, porque elle dava o exemplo.

Homem creado para o trabalho, sabia dirigir e administrar; sabia dizer e escrever. Não futilidades, mas assumptos serios: Finanças.

Lembrou-se de que o operario precisava de um jornal deu-lhe "O OPERARlO". Que bons artigos e quão instructivos.

Pela sua intelligencia vasta, que elle tanto soube aprimorar, pela sua intensa energia, que tanto soube valer, e que foi o mais forte elemento de sua grandiosa ascenção a esse altar de bençãos em que hoje fulge a sua memoria, pelo seu largo descortino de vista ousado e patriotico, procurou sempre resolver o problema socialista, dotando a Bahia com esse grande monumento de trabalho e de tranquillidade que è a Emporio Industrial do Norte.


Eram mattos, brejos e praia os terrenos onde estão edificados a Villa Operaria e a Fabrica da-companhia Emporio industrial do Norte, na hoje Avenida Luiz Tarquinio, e por cujo eixo passavam os trilhos da  Companhia Vehiculos Economicos.


Adeante, as casas do abecedario, outras grandes, onde residiam D. Theresinha. tia daquelle industrial, Antonio Leonardo, Coronel Marelim etc.


Foi, pois. ahi que Luiz Tarquinio alicerçou a Fabrica que depois teve o seu nome e a Villa Operaria. Fundou, antes, aquella Companhia, com Miguel Francisco Rodrigues de Moraes, que falleceu era 20 de Março de 1895, e Leopoldo Jose da Silva, fallecido em 25 de Março de 1903.

Institutida a Companhia, cuja primeira entrada de capital foi effectuada em 1891, iniciou-se a construcção da Fabrica e da Villa, tomando conta da primeira a firma inglesa Felher Jueker, sob a direcção dos engenheiros August Wellemmann e Augusto Lacerda. Nessa obra trabalharam, alem de outros, como pedreiro Angelo de tal, e como carpina, Hilario de tal e Carlos Nobre.

0 edificio occupava 19397 metros quadrados e 2258 de comprimento.

Construida a villa, tinha ella, como tem, oito secções, com 254 habitações que occupam uma area de 21476 metros quadrados tendo cada casa dais pavimentos, o inferior com tres commodos e o superior com dois, possuindo todos requisitos hygienicos.

Tinha Villa banheiros para homem e mulher; pharmacia, serviço medico a cargo do Dr. Adriano dos Reis Gordilho; lojas do fazenda, açougue, etc.

As escolas funccionavam na Villa e eram dirigidas por dd. Lucia Sterneg, Maria Amalia Moreira, Amelia Guedes, Elisa Vieira, Anna Cheney, Jessie Justice, Maria da Gloria Moreira, Edith Vergne de Abreu, Isabel Monteiro, Lydia Burgos, Gelasio de Abreu Farias, Socrates e Manoel Lopes Rodrigues, estes dois ultimos professores de desenho.

Aos domingos, tocavam, nos coretos da villa, a philarmonica e a banda do 1° corpo de policia; da philarmonica foi primeiro regente o maestro Miguel dos Anjos Torres e se compunha de operarios da Companhia.

O aluguel de uma casa, que era de 10$000 mensaes, descontados semanalmente, subiu a 14$000 quando foi inaugurada a luz electrica.

A’s 8,50 davam signal annunciando que estava prestes a hora de fechar os portões e cessar a luz, o que se effectuava ás 9 horas, ficando, porem, um portão aberto.


Na villa fundou-se em 4 de abril de 1909, a Sociedade 24 de Outubro – data genethliaca de Luiz Tarquinio.

Foram seus Directores:

Presidente da Assembléa – Dr. Lino Meirelles da Silva. Presidente do Directorio – Dr. Adriano dos Reis Gordilho. Vice-Presidente – Bacharel Raul de Figueiredo Lima. Secretario – Vicencio Constantino de Figueiredo. 2º Secretario – Domingos José Duarte. Thesoureiro – Otto Bittencourt.

O primeiro funeral que a Sociedade fez foi o do Sr. Laurindo Pereira Estevão, e os primeiros auxiliados, em caso de moléstia, foram Virginia Monteiro de Mattos e José Rodrigues.

Quando a farinha, nesta cidade, por efeito da secca, subiu de preço, Luiz Tarquinio franqueou provisoriamente, ao povo os armazéns da Villa, onde tudo era mais barato, aliviando-o assim do excessivo preço porque comprava, fora, aquelle produto.

Havia operário que fazia ferias de 60$000 trabalhando com 4 machinas.

O primeiro machinista da fabrica foi o Sr. Aurelio.

O trabalho na fabrica começava ás 7 horas terminava ás 17, tendo uma hora para almoço.

 

Quando Luiz Tarquinio regressava de suas viagens á Europa, os operários mais afeiçoados, que não eram poucos, recebiam presentes.

Vinha uma familia de fora trabalhar. Não trazia moveis. O grande industrial disfarçadamente, ia esmiuçar. Notava as faltas. No dia seguinte a casa recebia moveis, utensílios outros, para o seu chefe os ir pagando em modicas prestações.

Nem todos são previdentes: O operário recebia a sua “feria”. Era pequena para o que ele pretendia comprar. Somente um empréstimo.

E o fazia ao próprio patrão, que se encontrava na pharmacia, nos dias de sabbados, sempre para atender.

Quando se effectuavarn passeios de recreio, Luiz Tarquinio, para que todos podeseem ir decentes, abria créditos para elles nas lojas da fabrica, ou mesmo fóra.

E em varias festas de 2 de Julho os operarios tomaram parte, formando batalhão.

Reconhecendo o grande homem que dez annos de trabalho com assiduidade, gosto e bom procedìmento do operario deveriam ter um premio, Luiz Tarquinio o instituiu dando uma casa aquelle seu auxiliar que estivesse nas condições acima, e o primeiro premiado fol Francisco de Assis Peereira. Alem desse premio, outros conferia, como fez com o mesmo Francisco, que foi um dos primeiros serventes na construção da grande obra, na qual teve um braço fracturado quando quebrava pedras. Luiz Tarquinio mandou vir um braço de borracha, e aposentou o dito operario.

Luiz Tarquinio não admittia que seu operario andasse mal vestido nos jardins da Villa.

Prestigiava muito aos seus empregados.

E, a proposito, citemos um caso: em certa eleição cortaram o nome de um empregado que era bafejado por ele e que seria bem votado. O facto chegou ao conhecimento de L. Tarquinioi, o qual mandou chamar o orientador politico dos operários, ou melhor, o chefe politico do disctrito, resultando que nos dias seguintes na gazeta a apuração dava primeiro logar ao dito empregado.

Na frente da peanha em que assenta a estatua na Villa Operaria se lê:

“Homenagem dos acionistas da Companhia Emporio Industrial do Norte a seu benemérito fundador e Director Luiz Tarquinio – 1898.”

Luiz Tarquinio nasceu em 24 de Julho de 1844 e falleceu em 7 de Outubro de 1898.

A sua morte teve grande repercussão dolorosa em toda a Bahia e no seu enterramento a multidão que o acompanhou attestou a grande estima que o cercava. Estima e gratidão.

A Imprensa foi unanìme em exalçar as suas grandes qualidades e o Governo lhe prestou expressivas homenagens.

Luiz Tarquinio occupou o cargo de Intendente no governo Monoel Victorino e de quão proficua foi sua gestão há as melhores provas.

Iniciou a sua vida de trabalho aos dez annos, entrando para a casa commercial de Lino Porphyrio da Silva, de onde retirou-se para a de Frères Bruderer, da qual chegou a se sócio.

“O Cantando e Rindo” do dia da morte de Luiz Tarquinio:

Chora o operario; E’ justo o meu lamento!
Deu-me o trabalho… Devo-lhe o sustento!
E chora a esposa: Eu devo-lhe a alegria...
Quando rias feliz… Eu tambem ria…

Chora a creança: E a mim quem me consola?
Elle deu-me a instrucção! Deu-me uma escola!

Paira bem junto aos três uma visão: Não vos trago conforto!
Venho tambem chorar essa memoria!
Trago tambem a dor no coração!

Soffre a Bahia!... E devo ao grande morto
Mais um puro florão de minha Gloria!
Si perdeste o muito, que choraes.
Eu... perdi ainda mais!

[…]

Ha pouco, publicou-se o seguinte:

“Para se, imaginar a sua obra basta considerar que ainda hoje os capitães vivem retraidos em asssumptos de amparo e assistencia social aos proletarios, maxime em centros urbanos menores para não falar nos Centros rurais onde, muitos por via de regra de um atavisnio incompreendido no nosso seculo de reivindicação de classe. Prepondera um regime latifundiario romanescenie. Com todas as cores negras do servilismo a serviço do capitalismo absorvente.

A obra gigantesca que Luiz Tarquinio realizou, na segunda metade do saculo transacto, quando as palavras socialismo e outras (hoje no fastígio das apoteoses) eram termos exóticos , é das que imortalizam um homem.”

Fonte: patrimonioindustrialbrasil.blogspot.com.br

Mucio Teixeira, comparando as villas operarias da Europa e similares do Brasil com a da Boa Viagem, assim se expressou:

“O que não se vê, porem, em nenhuma delas, nem mesmo nas principais da Europa, é o bem estar do proletariado, cujas habitações chegam a ser confortáveis na prodigiosa cidade fundada e mantida pela suprema capacidade do benemerito da Villa Operaria."

“Ali ha verdadeira felicidade publica com o primeiro passo dado no caminho de riqueza da coletividade; ali estão sabiamente resolvidos os complexos e transcendentes problemas da hygiene e ordem, da justiça e da moralidade, do civismo o da instrucção."

Autor de valiosas obras sobre finanças, Luiz Tarquinio ainda foi um caracter e um coração dos mais puros, sempre a serviço dos mais nobre dos ideais.

“Era tal a grandeza moral de Luiz Tarquinio – observa Mucio Teixeira – que a propria lisonja, caindo a seus pés, se transfigurava em justica á semelhança das esmolas daquela Rainha da lenda religiosa que se transformavam em flores.”

O saudoso Josè de Oliveira Campos, que, por muitos annos foi director da Biblioteca Publica da Bahia, o velho Campos, um dos mais meticulosos exhumadores de aliarrabios, sapador de autographos de antanho, possuidor de u’a memoria das mais assombrosas que já vi, traçou, nas linhas adeante, o perfil de Tarquinio:

“Rija tempera de heroe, batalhador valente, ascendeu por seus próprios esforços ao cimo da pyramide social, subindo degrau por degrau a escada do trabalho, enriquecendo no laborioso commercio até que poude realizar o seu ideal, levantando a assombrosa Emprêza do “Emporio do Norte” grandiosa instituição, fonte de trabalho que sustenta centenares de familias, elogiada em todo paiz e no estrangeiro entrelaçando os interesses do operario com os do capitalismo, sendo considerada, neste genero a “obra mais grandiosa da America do Sul."

Luiz Tarquinio era casado com a Exma. Sra D. Adelaide de Figueiredo Tarquinio, e são filhos do feliz consorcio Luiz, Alvaro, Juvenal, João, Eduardo, Waldemar, Mario, Raphael, Adelaide, Celina, Noeimìa, Djanira, Stella e Maria Luiza.

Na Occasião de ser dado a sepultura o corpo de Luiz Tarquinio talou o engenheiro Souza Carneiro.

“O enterro desse grande homem foi uma sagração e é necessario que accentuemos esse facto para demonstrar que a sociedade bahiana sabia fazer justica ao merecimento de tão  prestimoso concidadão."

A companhia que Luiz Tarqninio fundou foi talvez a primeira no Brasil, talvez mesmo a unica, que se fundou sem que acceitassem os seus incorporadores bonificação alguma por isso. “E por alguns annos ainda nem mesmo os seus tres directores receberam honorários."

Luiz Tarquinio pouca importancia dav ás questões politicas, mas muito se dedicava as questões sociaes.

“Espirito finamente culto, acompanhava de perto a evolução das letras e das artes”.

“Aquella alta chaminè, todas as vezes que enche os ares de tenue fumaça, parece que relembra os leitos gloriosos de Luiz Tarquinio proclamando o verdadeiro amigo do operario! anjo de caridade! Pontífice do trabalho como disse 0 Dr. J. O. Campos, e repetimos de coração.

João Varella, “Da Bahia que eu vi”, 1935, p. 5-12.

Um comentário:

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