A atual Catedral Basílica de Salvador é o templo do antigo Colégio dos Jesuítas. Foi tombada como patrimônio nacional em 1938. |
A
Catedral atual da cidade do Salvador é a antiga igreja dos jesuítas, expulsos
do Brasil em 1759, sendo então ocupada sua igreja pelos arcebispos baianos, por
ter sido mais modesta a antiga Sé, demolida em 1934.
Os
jesuítas já vieram à Bahia, em 1549, juntamente com Tomé de Souza quando
este Governador Geral do Brasil fundou a sua Capital, a cidade do Salvador.
Imbuídos do espírito agressivo da contra-reforma, foram missionários muito
zelosos, defendendo os direitos dos índios contra colonos que desejavam
escravisá-los. Daí surgiram muitas desavenças na colônia nascente. O próprio
clero secular, mais de uma vez, tomou atitudes hostis aos jesuítas. Era uma
Ordem nova, apenas fundada, em 1540 e por isso, até certo ponto, desequilibrada,
como acontece com todas as instituições novas deste género. Devido ao seu
espírito combativo dominaram na vida religiosa da cidade do Salvador, tanto
mais que por intermédio de seu colégio influenciaram a nova geração.
A sua
primeira capela foi apenas uma capela de pareces os taipa e coberta com palha,
à maneira indígena. Mas, em 1553, já levantaram uma capela com pedra e
cal e coberta com telha que durou poucos anos, construindo por volta de 1570, a sua terceira capela
que, segundo a opinião de alguns historiadores ficava no fundo da atual
catedral,ocupando o espaço da atual sacristia.
Expulsos
os holandeses de Pernambuco, na Bahia começaram a construir igrejas “para a
eternidade”. A primeira igreja deste gênero foi a da Santa Casa de Misericórdia; a segunda, a dos jesuítas,
começada em 1657. Carlos Ott (GACS,1987)
Os
padres da Companhia de Jesus, dentro de um século lá tinham acumulado tão
grande riqueza com seus engenhos de açúcar e fazendas de gado que podiam pensar
em levantar a maior igreja até então feita na Bahia. Carlos Ott (GACS,1987)
Segundo
Carlos Ott, a primeira fachada deste templo, por ordem do Padre Simão de
Vasconcelos, era réplica do templo jesuítico de Coimbra (do século XVII), obra
do arquiteto Afonso Alvares.
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2011/02/terreiro-de-jesus-catedral-basilica-de_17.html |
Sete anos depois, entretanto, foi remodelada
imitando a do templo jesuítico de Santarem (de 1676), com seus grandes caracois.
Os três portais da fachada baiana, inspirados também no modelo coimbrense, receberam sua última forma definitiva quando, em 1746 colocaram por cima deles imagens barrocas de três Santos eminentes da Ordem dos Jesuítas: Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja. Carlos Ott (GACS,1987)
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Anteriormente,
em 1701, já revestiram a fachada toda com placas finas de mármore italiano.
Provavelmente foi nesta ocasião que acrescentaram as duas torres demasiadamente
pequenas; do outro lado, nem era possível acrescentar torres maiores pois
faltavam os cunhais fortes que as sustentassem [...].Carlos Ott (GACS,1987)
O forro
da nave, trabalho de grande efeito artístico e único na Bahia, foi feito, em
1696 pelo carpinteiro e entalhador jesuíta, o Irmão leigo Luiz Manoel,
português, natural de Matosinhos que antes de entrar na Companhia de Jesus
trabalhava em construção de veleiros no Rio de Janeiro. Carlos Ott (GACS,1987)
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Altares
laterais da direita:
- Altar armário
tendo por fora quadro da Visitação de Nossa Senhora à Santa Isabel,
pintado em tábuas, e outra pintura por dentro. Sua parte superior é mais antiga
(provável século XVI) e a parte inferior já traz características barrocas
(provável cerca de 1680);
- Barroco – Dedicado
à Santa Úrsula e às Virgens Mártires;
- Barroco –
Dedicado à N. S. da Conceição (de cerca de 1730);
- Barroco mais sóbrio,
ainda com características renascentistas, com paredes e púlpito revestidos
de mármore branco italiano, por volta de 1701, conservando-se porém antigo
baldaquino de púlpito de madeira – Dedicado a S. Francico de Borja (provavelmente
do final do século XVII);
- Barroco, com
motivos Rococó na parte infeiror – Dedicado a S. Francisco Xavier, missionário
jesuíta na ìndia (de cerca de 1750).
- Barroco –
Dedicado a N. S. das Dores.
Altares dos santos e das virgens mártires. |
Altares
laterais da esquerda:
- Renascentista na
parte superior e barroco na inferior, correspondento estilisticamente ao
altar das Virgens Mártires – Dedicado aos Santos Mártires;
- Barroco, com quatro
paínéis, de cerca de 1750, do português Antônio Simões Ribeiro (que havia
pintado três tetos da biblioteca de Coimbra) – Dedicado a Santa Ana;
- Barroco, com quatro
painéis neoclássicos do espannhol M. N. Cañizares, pintados em 1881 – Dedicado a S. José;
- Barroco, ainda
com características renascentistas – Dedicado a S. Pedro;
- Barroco, com
motivos Rococó na parte infeiror – Dedicado a Santo Inácio de Loyola;
- Barroco - Altar
do Santíssimo Sacramento.
Um altar
monumental é o da capela-mór. Na parte inferior deparamos com os cadeirais
trazidos para aí da antga Sé, pois os jesuítas não usavam estalas; era urna
Ordem de vida ativa, sem recitação de breviário em comum no coro como os
beneditinos e franciscanos faziam. São cadeirais modestos, mas bem feitos, dos
fins do Séc XVII, de autor desconhecido. Carlos Ott (GACS,1987)
O
altar-mór foi feito entre 1665-1070 pelos entalhadores jesuítas João Correia,
do Porto, Luiz Manoel de Matosinhos e Domingos Trigueiros, de Ponte de Lima. Carlos Ott (GACS,1987)
Altar-mor - renascimento tardio. |
Os
quadros pintados com cenas bíblicas que revestem as paredes da capela-mor, Carlos
Ott classifica como de inspiração renascentista, sendo excessão o da “Anunciação
do nascimento de Cristo”, barroco. As pinturas do forro são do jesuíta francês
Carlos Belleville. Ainda segundo Ott, desenhos e tintas de origem chinesa
devem-se a estada de Carlos Belleville naquela região por um período de dez
anos, antes de migrar para Salvador.
Do mesmo
Carlos Belleville também é a decoração do corredor do lado direito que leva à
sacristia, e já executada por volta de 1712 como a do teto da sacristia pois
ainda revelam forte influência chinesa sendo porém as figuras de Santos no teto
pintadas por outra mão [...].
Nas
paredes da sacristia vemos azulejos portugueses do último decênio do séc. XVII,
e, na sua parte superior, quadros bíblicos [...].
Pinturas
de grande valor artístico encontramos nos respaldos dos dois arcazes de
jacarandá com marfim e tartaruga encrustados. Estes painéis estão pintados em
cima de latão que não criava ferrugem. Vieram da Itália por volta de 1690. Seus
autores por ora não foram identificados. Alguns destes painéis, como a
“Adoração do Menino Jesus pelos pastores” como “Nossa Senhora amamentando seu
Filho’ revelam a pintura do claro-escuro, praticada no Séc. XVI por Antônio
Correggio e posteriormente por seus discípulos, o que não se manifesta tanto
nos outros de sorte que já se pensou atribuir estes painéis a três pintores, de
qualquer maneira todos excelentes artistas, tipicamente italianos e que
ultimamente foram bem restaurados, de sorte que os podemos apreciar agora na
sua forma original, pois tinham sido restaurados, e mal em 1741, pois naquele
tempo ainda não se praticava restauração técnica e sim mais repintura que falsilicava
a pintura anterior.
Muito
bonito, embora de autor por ora não identificado, também é a tela grande que
fica no altar de mármore existente no meio dos dois arcazes, vindos também da
Itália, por volta de 1690.
Apreciáveis
e únicos na Bahia também são os altares de mármore da mesma sacristia que
vieram no mesmo tempo de Roma, como o Lavabo.
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Veio
também de Roma o pintor anônimo, autor da primeira pintura em perspectiva
existente no museu existente na antiga biblioteca por cima da Sacristia. Em
1689, foi contratado pelo cônego da Sé antiga. Francisco Pereira “um isigne
pintor” de Roma para executar uma pintura ilusionista no teto da nave daquela
igreja. Quando ele veio, não estava porém pronta a armação da abóbada de berço
da Sé, a primeira deste gênero feita na Bahia, razão por que os jesuítas
convidaram o pintor a executar na sua biblioteca uma pintura em perspectiva que
veio aos nossos dias, ao passo que aquela da Sé se perdeu na demolição dela, em
1934. O dito “insigne pintor” de Roma foi contemporâneo de Andrea Pozzo, que
deixou sua obra prima, a “Gloriticação de Santo Inácio” na igreja romana do
mesmo nome. A pintura em perspectiva da biblioteca baiana dos jesuftas não se
compara com aduela, mas de qualquer maneira representa uma pintura ilusionista
de grande valor artístico, sendo representada no seu teto uma figura feminina
que representa a “Sabedoria”, sustentada numa nuvem por um casal de anjos, um
masculino barbado e munido com uma gadanha, o símbolo da morte, e uma anja, tendo
seus seios cobertos por um soutien e pondo em movimento com seus pés uma roda,
o símbolo da vida que se renova pela mulher. Na parte superior do quadro aparece
outra anja com seios desnudos, tocando a trombeta do “Ultimo Juízo”. São
assuntos e figuras completamente novas na Bahia, sendo alguns posteriormente
imitados na pintura ilusionista do teto da nave da Conceição da Praia. Carlos Ott (GACS,1987)
Referência Bibliográfica:
OTT, Carlos. Guia artístico da cidade do Salvador. Nº 1, Bahia, 1987.
Parabéns Ana Góis pelo excelente post, com profusão de imagens e fundamentação teórica com citação das fontes. Foi me de grande valia na realização de um trabalho de História da Arte - Arte Brasileira.
ResponderExcluirObrigada
Bete
Querida Bete, muito obrigada por suas palavras que me incentivam a prosseguir com este trabalho. Fico feliz em saber que lhe foi útil. Abraço, Ana Góis.
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