terça-feira, 8 de maio de 2012

Catedral Basílica de Salvador


A atual Catedral Basílica de Salvador
é o templo do antigo Colégio dos  Jesuítas.
Foi tombada  como patrimônio nacional em 1938.
A Catedral atual da cidade do Salvador é a antiga igreja dos jesuítas, expulsos do Brasil em 1759, sendo então ocupada sua igreja pelos arcebispos baianos, por ter sido mais modesta a antiga Sé, demolida em 1934.
Os jesuítas já vieram à Bahia, em 1549, juntamente com Tomé de Souza quando este Governador Geral do Brasil fundou a sua Capital, a cidade do Salvador. Imbuídos do espírito agressivo da contra-reforma, foram missionários muito zelosos, defendendo os direitos dos índios contra colonos que desejavam escravisá-los. Daí surgiram muitas desavenças na colônia nascente. O próprio clero secular, mais de uma vez, tomou atitudes hostis aos jesuítas. Era uma Ordem nova, apenas fundada, em 1540 e por isso, até certo ponto, desequilibrada, como acontece com todas as instituições novas deste género. Devido ao seu espírito combativo dominaram na vida religiosa da cidade do Salvador, tanto mais que por intermédio de seu colégio influenciaram a nova geração.
A sua primeira capela foi apenas uma capela de pareces os taipa e coberta com palha, à maneira indígena. Mas, em 1553, já levantaram uma capela com pedra e cal e coberta com telha que durou poucos anos, construindo por volta de 1570, a sua terceira capela que, segundo a opinião de alguns historiadores ficava no fundo da atual catedral,ocupando o espaço da atual sacristia.
Expulsos os holandeses de Pernambuco, na Bahia começaram a construir igrejas “para a eternidade”. A primeira igreja deste gênero foi a da Santa Casa de Misericórdia; a segunda, a dos jesuítas, começada em 1657. Carlos Ott (GACS,1987)


Os padres da Companhia de Jesus, dentro de um século lá tinham acumulado tão grande riqueza com seus engenhos de açúcar e fazendas de gado que podiam pensar em levantar a maior igreja até então feita na Bahia. Carlos Ott (GACS,1987)   

Segundo Carlos Ott, a primeira fachada deste templo, por ordem do Padre Simão de Vasconcelos, era réplica do templo jesuítico de Coimbra (do século XVII), obra do arquiteto Afonso Alvares. 
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com.br/2011/02/terreiro-de-jesus-catedral-basilica-de_17.html
Sete anos depois, entretanto, foi remodelada imitando a do templo jesuítico de Santarem (de 1676), com seus grandes caracois.


Os três portais da fachada baiana, inspirados também no modelo coimbrense, receberam sua última forma definitiva quando, em 1746 colocaram por cima deles imagens barrocas de três Santos eminentes da Ordem dos Jesuítas: Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja.Carlos Ott (GACS,1987)  
http://casosecoisasdabonfa.blogspot.com.br
Anteriormente, em 1701, já revestiram a fachada toda com placas finas de mármore italiano. Provavelmente foi nesta ocasião que acrescentaram as duas torres demasiadamente pequenas; do outro lado, nem era possível acrescentar torres maiores pois faltavam os cunhais fortes que as sustentassem [...].Carlos Ott (GACS,1987)

O forro da nave, trabalho de grande efeito artístico e único na Bahia, foi feito, em 1696 pelo carpinteiro e entalhador jesuíta, o Irmão leigo Luiz Manoel, português, natural de Matosinhos que antes de entrar na Companhia de Jesus trabalhava em construção de veleiros no Rio de Janeiro. Carlos Ott (GACS,1987)
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Altares laterais da direita:

  1. Altar armário tendo por fora quadro da Visitação de Nossa Senhora à Santa Isabel, pintado em tábuas, e outra pintura por dentro. Sua parte superior é mais antiga (provável século XVI) e a parte inferior já traz características barrocas (provável cerca de 1680);
  2. Barroco – Dedicado à Santa Úrsula e às Virgens Mártires;
  3. Barroco – Dedicado à N. S. da Conceição (de cerca de 1730);
  4. Barroco mais sóbrio, ainda com características renascentistas, com paredes e púlpito revestidos de mármore branco italiano, por volta de 1701, conservando-se porém antigo baldaquino de púlpito de madeira – Dedicado a S. Francico de Borja (provavelmente do final do século XVII);
  5. Barroco, com motivos Rococó na parte infeiror – Dedicado a S. Francisco Xavier, missionário jesuíta na ìndia (de cerca de 1750).
  6. Barroco – Dedicado a N. S. das Dores.
Altares dos santos e das virgens mártires.
Altares laterais da esquerda:

  1. Renascentista na parte superior e barroco na inferior, correspondento estilisticamente ao altar das Virgens Mártires – Dedicado aos Santos Mártires;
  2. Barroco, com quatro paínéis, de cerca de 1750, do português Antônio Simões Ribeiro (que havia pintado três tetos da biblioteca de Coimbra) – Dedicado a Santa Ana;
  3. Barroco, com quatro painéis neoclássicos do espannhol M. N. Cañizares,  pintados em 1881 – Dedicado a S. José;
  4. Barroco, ainda com características renascentistas – Dedicado a S. Pedro;
  5. Barroco, com motivos Rococó na parte infeiror – Dedicado a Santo Inácio de Loyola;
  6. Barroco - Altar do Santíssimo Sacramento.
Um altar monumental é o da capela-mór. Na parte inferior deparamos com os cadeirais trazidos para aí da antga Sé, pois os jesuítas não usavam estalas; era urna Ordem de vida ativa, sem recitação de breviário em comum no coro como os beneditinos e franciscanos faziam. São cadeirais modestos, mas bem feitos, dos fins do Séc XVII, de autor desconhecido. Carlos Ott (GACS,1987)


O altar-mór foi feito entre 1665-1070 pelos entalhadores jesuítas João Correia, do Porto, Luiz Manoel de Matosinhos e Domingos Trigueiros, de Ponte de Lima. Carlos Ott (GACS,1987)

Altar-mor - renascimento tardio.
Os quadros pintados com cenas bíblicas que revestem as paredes da capela-mor, Carlos Ott classifica como de inspiração renascentista, sendo excessão o da “Anunciação do nascimento de Cristo”, barroco. As pinturas do forro são do jesuíta francês Carlos Belleville. Ainda segundo Ott, desenhos e tintas de origem chinesa devem-se a estada de Carlos Belleville naquela região por um período de dez anos, antes de migrar para Salvador.

Do mesmo Carlos Belleville também é a decoração do corredor do lado direito que leva à sacristia, e já executada por volta de 1712 como a do teto da sacristia pois ainda revelam forte influência chinesa sendo porém as figuras de Santos no teto pintadas por outra mão [...].

Nas paredes da sacristia vemos azulejos portugueses do último decênio do séc. XVII, e, na sua parte superior, quadros bíblicos [...].

Pinturas de grande valor artístico encontramos nos respaldos dos dois arcazes de jacarandá com marfim e tartaruga encrustados. Estes painéis estão pintados em cima de latão que não criava ferrugem. Vieram da Itália por volta de 1690. Seus autores por ora não foram identificados. Alguns destes painéis, como a “Adoração do Menino Jesus pelos pastores” como “Nossa Senhora amamentando seu Filho’ revelam a pintura do claro-escuro, praticada no Séc. XVI por Antônio Correggio e posteriormente por seus discípulos, o que não se manifesta tanto nos outros de sorte que já se pensou atribuir estes painéis a três pintores, de qualquer maneira todos excelentes artistas, tipicamente italianos e que ultimamente foram bem restaurados, de sorte que os podemos apreciar agora na sua forma original, pois tinham sido restaurados, e mal em 1741, pois naquele tempo ainda não se praticava restauração técnica e sim mais repintura que falsilicava a pintura anterior.

Muito bonito, embora de autor por ora não identificado, também é a tela grande que fica no altar de mármore existente no meio dos dois arcazes, vindos também da Itália, por volta de 1690.

Apreciáveis e únicos na Bahia também são os altares de mármore da mesma sacristia que vieram no mesmo tempo de Roma, como o Lavabo.

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Veio também de Roma o pintor anônimo, autor da primeira pintura em perspectiva existente no museu existente na antiga biblioteca por cima da Sacristia. Em 1689, foi contratado pelo cônego da Sé antiga. Francisco Pereira “um isigne pintor” de Roma para executar uma pintura ilusionista no teto da nave daquela igreja. Quando ele veio, não estava porém pronta a armação da abóbada de berço da Sé, a primeira deste gênero feita na Bahia, razão por que os jesuítas convidaram o pintor a executar na sua biblioteca uma pintura em perspectiva que veio aos nossos dias, ao passo que aquela da Sé se perdeu na demolição dela, em 1934. O dito “insigne pintor” de Roma foi contemporâneo de Andrea Pozzo, que deixou sua obra prima, a “Gloriticação de Santo Inácio” na igreja romana do mesmo nome. A pintura em perspectiva da biblioteca baiana dos jesuftas não se compara com aduela, mas de qualquer maneira representa uma pintura ilusionista de grande valor artístico, sendo representada no seu teto uma figura feminina que representa a “Sabedoria”, sustentada numa nuvem por um casal de anjos, um masculino barbado e munido com uma gadanha, o símbolo da morte, e uma anja, tendo seus seios cobertos por um soutien e pondo em movimento com seus pés uma roda, o símbolo da vida que se renova pela mulher. Na parte superior do quadro aparece outra anja com seios desnudos, tocando a trombeta do “Ultimo Juízo”. São assuntos e figuras completamente novas na Bahia, sendo alguns posteriormente imitados na pintura ilusionista do teto da nave da Conceição da Praia. Carlos Ott (GACS,1987)

Referência Bibliográfica:

OTT, Carlos. Guia artístico da cidade do Salvador. Nº 1, Bahia, 1987.






2 comentários:

  1. Parabéns Ana Góis pelo excelente post, com profusão de imagens e fundamentação teórica com citação das fontes. Foi me de grande valia na realização de um trabalho de História da Arte - Arte Brasileira.
    Obrigada
    Bete

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    1. Querida Bete, muito obrigada por suas palavras que me incentivam a prosseguir com este trabalho. Fico feliz em saber que lhe foi útil. Abraço, Ana Góis.

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