Os
franciscanos vieram à Bahia, em 1587. Da sua primeira igreja no Terreiro do
Jesus, construída por Frei Francisco dos Santos, o primeiro deste nome,
arquiteto e escultor português, nem elementos iconográficos fidedignos vieram
aos nossos dias. Do primeiro convento, talvez a portaria atual apresente
restos.
A Igreja
de São Francisco atualmente existente foi construída, entre 1708-1713,
provalvelmente segundo a planta do engenheiro
em exercício do Governo, Francisco Pinheiro que anteriormente já fizera
as plantas do novo convento, edificado entre 1686-1705. (Carlos Ott. GACS,
1987)
Segundo Carlos Ott (GACS, 1985), o arenito utilizado na fachada, repleto de seixos de granito, os franciscanos receberam de graça, extraído de uma pedreira na Boa Viagem. |
Assim
nasceu um frontispício renascentista, realçado pelas torres com extremidades
piramidais, possuindo apenas um frontão de caracoes com tendências barrocas. Observamos
porém aqui torres possantes, levantadas com cunhais salientes de pedra de
cantaria [...] que dá ao edifício o aspecto de uma construção sólida, bem
implantada. As paredes destas duas torres, primeiro apenas caiadas, foram
azulejadas em 1806 e neste ano também se acrescentou no meio da praça defronte
a igreja o cruzeiro de pedra mármore, dando assim ao conjunto um aspecto
tipicamente lusitano. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Não
encontrando aberta a portada da igreja, pode-se entrar nela pela portaria do
convento que fica do lado direito do templo. Neste salão deparamos com azulejos
da segunda metade do séc. XVIII, revestindo as paredes juntamente com painéis
neste tempo importados de Portugal, sendo um deles assinado por um certo “Matos”.
A pintura do teto desta portaria foi executada, em 1772 pelo pintor de origem
portuguesa José Joaquim da Rocha, representando uma Aula Magna de uma
universidade medieval na qual se discutia o privilégio da isenção do pecado
original da mãe de Cristo. O pintor aqui repetiu essencialmente o mesmo assunto
e quase todas as figuras de Santos que ele pintou, em 1768, no teto da Igreja
de Santo Antônio, da capital paraibana. A falta de altura correspondente para
uma pintura em perspectiva não permite porém apreciar o conjunto da pintura,
mas permite apreciar as figuras isoladas dos Santos [...].(Carlos Ott. GACS,
1987)
Entretanto
na igreja, reparamos na parte do adro, [...] com azulejos em estilo rococó,
pintados por Bartolomeu Antunes em Portugal, por volta de 1745, representando
cenas da infância e juventude de São Francisco de Assis. (Carlos Ott. GACS,
1987)
Em cima deste adro fica o coro dos frades, já
transferido da capela-mór para cima pelo primeiro arquiteto franciscano Frei
Francisco dos Santos na primeira igreja que ficava no mesmo lugar e que,
segundo a descrição do Livro dos Guardiães, ainda possuia um adro de três
arcos. O coro atual está sustentado por duas colunas possantes com capitéis
iônicos importados de Portugal, possuindo embaixo pias de água benta, doadas
por Dom João V. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Repare
ainda na decoração tipicamente barroca com que estão revestidos os dois
púlpitos da nave, apresentando bustos femininos exuberantes e provocantes que
revelam todo o sensualismo da mentalidade barroca, acompanhada pelas
gargalhadas estridentes de máscaras de demônios maliciosos que se encontram
reproduzidas na parte inferior dos mesmos púlpitos. O mesmo sensualismo barroco
manifesta-se nas cariátides femininas que se encontram na grade de jacarandá
preto que cerca a nave. (Carlos Ott. GACS, 1987).
Vamos
entrando na capela-mór da igreja. O piso está revestido de um trabalho raro e
bem feito em linhas barrocas com mármore encrustado português, herança dos
antigos romanos, não tão perfeito como os trabalhos semelhantes italianos pois
o mármore português, inferior ao italiano, não permitia a mesma perfeição. Este
piso corresponde maravilhosamente ao rico forro da capela-mór, formado de círculos entrelaçados. Iluminado pela lâmpada gigantesca de prata, de autor desconhecido,
completa a harmonia barroca existente nesta capela-mór. (Carlos Ott. GACS, 1987).
Seu altar-mór possue
urna imagem de São Francisco abraçado pelo Cristo crucificado, escultura feita
em 1931 pelo escultor baiano Pedro Ferreira, imitando a célebre pintura de Murillo. (Carlos Ott. GACS, 1987).
As
paredes da capela-mór estão revestidas com azulejos portugueses, pintados em
1737 pelo pintor português Bartolomeu Antunes, como diz a inscrição existente
no azulejo do lado direito do presbitério, dizendo: “Bartolomeu Antunes a fez
nas olarias em Lisboa no (ano) de 1737” .
Representam cenas da vida de São Francisco. Voltando à nave, vale a pena apreciar novamente o conjunto da
capela-mór, inspirado visivelmente na igreja de Miragaia, situada ao sul da
cidade do Porto. (Carlos Ott. GACS, 1987).
Altares do lado direito da nave:
- Barroco com colunas salomônicas – S. Benedito (de
origem norte-africana, era moreno. Nesta imagem mostra carnação negra);
- Barroco com colunas salomônicas – S. José;
- Barroco com colunas salomônicas – S. Pedro de Alcântara (imagem rococó do final do século XVIII);
- Dedicado ao “Coração de Jesus” (antes foi dedicado a
S. Luiz da França). Considerado por Carlos Ott (GCAS, 1987) um dos mais perfeitos retábulos da
Bahia. Ele comenta: “Aqui o espaço
disponível é completa e perfeitamente ocupado, e aproveitado bem a luz da
janela aí existente. Em cima [...] há duas cúpulas pequenas em
perspectiva, criadas pelo pincel ilusionista do já mencionado pintor José
Joaquim da Rocha.”;
- S. Antônio de Lisboa (conhecido também como S. Antônio
de Pádua, por estar sepultado nesta cidade da Itália).
Altares do lado esquerdo da nave:
1.
São Pascoal Bailão;
2.
Santana;
3.
Santa Luzia;
4. N. S. da Glória - Considerado por Carlos Ott (GCAS, 1987) um dos mais perfeitos
retábulos da Bahia. Ele comenta: “Aqui o
espaço disponível é completa e perfeitamente ocupado, e aproveitado bem a luz
da janela aí existente. Em cima [...] há duas cúpulas pequenas em perspectiva,
criadas pelo pincel ilusionista do já mencionado pintor José Joaquim da Rocha.”;
5. N. S. da Conceição (do
lado esquerdo do arco-cruzeiro). Sobre a imagem revela Carlos Ott (GCAS, 1987): “...anos
atrás mais bonita, mas cuja encarnação ficou prejudicada quando depois de uma
festa de São Francisco uma doida arrancou a escultura de seu pedestal;
tornou-se necessária uma restauração e nova encarnação que porém foi feita por
um homem que já não conheceu os segredos das encarnações setecentistas...”.
Voltemos
à Portaria e entremos na Capela do Capitulo que possue um altar barroco
excelente como dois quadros em rococó teatral perfeito. Os painéis que ficam de
ambos os lados do retábulo [...] representam a “Anunciação do nascimento de
Nossa Senhora a seus pais, Sant’Ana e São Joaquim”, assuntos tirados do
evangelho apógrifo de São Jacó. (Carlos Ott. GACS, 1987)
No teto
desta Capela do Capitulo deparamos com trinta e dois quadros dentro de molduras
octogonais que representam virgens mártires. (Carlos Ott. GACS, 1987)
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Desta
Capela do Capítulo entramos no claustro, revestido de azulejos portugueses
primorosos, pintados por Bartolomeu Antunes [...] que ai se inspirou em
estampas de Otto van Veen, o mestre do grande pintor flamengo Peter Paul
Rubens, mas transformou o formato quadrado das ditas estampas em
azulejos-tapetes de formato mais largo, o que o obrigou de redesenhar todas as
figuras, o que ele fez com grande habilidade pictórica. Assim estes azulejos-tapetes
do andar térreo deste claustro representam a melhor pintura barroca existente
na Bahia no que diz respeito tanto ao desenho perfeito como à mentalidade
barroca da glorificação da beleza do corpo humano. São tratados temas da ética
natural que Otto van Veen inventou na base do estudo dos clássicos latinos,
principalmente de Horácio; e que recomendam o gozo moderado dos prazeres da
carne, do poder, da riqueza, etc. A fertilidade humana é representada por uma
mulher de quatro seios [...]. Cada
azulejo possue uma inscrição latina do seu significado. [...] Na
pintura dos azulejos do andar térreo predominou absolutamente o pincel seguro
de Bartolomeu Antunes (pois pintor de azulejo não pode corrigir traço nenhum);
em poucos casos observamos colaboração de oficiais, como no barril em que está
sentado o filósofo grego Diógenes, o “cínico”, pintado sem pintura correta de
perspectiva.Tais
erros de colaboradores já são mais numerosos nos azulejos do primeiro andar do
claustro, sinal que aí houve mais colaboração. Mesmo assim aí aparecem também
figuras humanas clássicas, como as que representam os sentidos humanos, sendo
também muito apreciáveis as figuras que representam os trabalhos
característicos de cada mês em Portugal. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Do
claustro se entra na sacristia, em cuja frente e na parede direita externa da
capela-mór encontramos também cenas bíblicas pintadas por Barlolomeu Antunes,
por volta de 1740, quando os franciscanos já lhe deram mais liberdade do que na
pintura dos azulejos da capela-mór; mas seu pincel trabalhou com plena
liberdade quando entre 1745—1748, pintou os azulejos do claustro. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Na
sacristia encontramos um dos arcazes mais perfeitos para guardar os paramentos
sacerdotais em suas gavetas; no meio deles deparamos com o altar barroco mais
lindo, possuindo no seu meio um crucifixo de marfim de mentalidade e
característicos artísticos góticos (como os cabelos anelados do Cristo),
provavelmente copiado de um crucifixo antigo por um escravo africano da Costa
do Marfim, onde se cultivava escultura de marfim desde séculos. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Apreciáveis
são também os armários da sacristia como as pinturas do seu teto, cujos autor
ainda não consegui identificar. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Caso o
guia franciscano que lhe acompanhar ainda lhe permitir lançar uns olhares
dentro do convento, peça que lhe mostre o refeitório, pois aí verá os azulejos
mais antigos da Bahia, colocados por volta de 1650 na sua primeira igreja. No
mesmo refeitório há também uma “Ultima Ceia”, azulejo-moldura, provavelmente
pintado por Antônio Pereira. E no mesmo recinto, como na sua ante-sala e na
escadaria que leva para os andares superiores há azulejos tipo “arabesco”,
feitos por volta de 1705. No fim desta escadaria encontramos em frente da
antiga enfermaria do convento o brazão da Ordem franciscana, um braço de Cristo
e outro de São Francisco, cruzados, com azuejos que possuem o tamanho dos
holandeses, sem poder afirmar por documentos esta origem, pois a azulejaria
portuguesa é muito influenciada pela holandesa, sem se poder afirmar o contrário. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Dentro
da antiga enfermaria (hoje sala de aula) há também azulejos-tapetes,
representando cenas de eremitas; quando um conjunto desses tirou-se da parede,
anos atrás, descobri atrás dos azulejos isolados a indicação com algarismos e
letras que serviram de orientação para o pedreiro colocá-los corretamente. (Carlos Ott. GACS, 1987)
Referência Bibliográfica
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