quarta-feira, 30 de maio de 2018

A FESTA AOS CHILENOS


Poucos dias começado o mez de Julho de 1902, e se soube nesta capital de que uma esquadrilha chilena se approximava do nosso porto.

Uma parte do povo tinha um vago conhecimento de que a grande Nação transandina nos tributava muita estima e nos era credora de especial gratidão.

O JORNAL DE NOTICIAS mostrou a opportunidade de exteriorizarmos os nossos jubilos pela presença de representante desse povo e de saudarmos, com as maiores effusões da alma, o pavilhão glorioso da estrella solitaria. […]

A mocidade academica, sempre a postos para os grandes commettimentos, de logo se reuniu, acompanhando o seu nobilíssimo gesto a Associação dos Empregados do Commercio, a Faculdade de Direito, a Associação Commercial e outras sociedades.

E laboraram o programma, e dos acadêmicos seria orador Dr. Oscar Freire de Carvalho, já nome feito.

Do programma constava também dar se á Rua Direita de Palacio o nome da Nação homenageada.

A classe typographica ofereceria igualmente o seu contingente para aumentar o regozijo publico.

“Ainda nos lembramos do brilho que essa inteligente classe, infelizmente uma das mais esquecidas entre nós, imprimiu ás inestimáveis festas com que a alma bahiana saudou o aurorear da diamantina lei de 13 de Maio de 1888”.

Os gráficos resolveram publicar uma polyanthea dedicada aos hospedes, sendo nomeadas commissões para angariar donativos, e um de seus membros foi o autor deste livro.

O Governo do Estado determinou se resolvesse sobre uma demonstração da família bahiana aos marinheiros chilenos.

Não obstante o trabalho já desenvolvido para o melhor êxito da festa, a Imprensa não deixava de se esforçar para que todo povo désse o seu auxilio á homenagem.

E a esquadra chilena aportou á Bahia.

Compunham-n’a três destroyers – “Thomson”, “Moreno Jaspe”, “O Brien”, e cruzadores “Roncagua” e “Carrasco”.

Não me recordo ter visto outra festa em que a alma popular de minha terra vibrasse tanto, numa demonstração de intenso jubilo, dando uma hospedagem fidalga e todos os carinhos de irmãos sinceros e irmãos leaes.

Toda a idéa que se fizer hoje da espontaneidade, da grandeza, da magnificência das festas daquele frio mez de Julho nas ruas, nos palácios, nos templos, nos edifícios públicos, no mar, durante o dia ou á noite, será um pallido, um apagado quadro do que vimos e do que tomamos parte, irmanados todos para celebrar aquella homenagem com toda pompa.

Parece que os navios não salvaram á terra. Estavam desarmados. [...]

Rara era a casa que não se via um signal com as cores de Nação amiga, por isso a dificuldade depois de encontrar no commercio uma bandeira chilena. [...]

A corporação gráfica O JORNAL promoveu a sua manifestação e há muito gsto para quem escreve estas linhas historia la:


Um dos rapazes aventou idéa, que foi logo aceita, de se enfeitar a frente do edifício da gazeta, derramar confetti e flores á passagem dos chilenos em caminho do Lyceu, onde os iam receber as classes gráficas. Seria somente isto. Não havia recursos para mais. De logo, as listas – tiras de papel de prova – foram espalhadas e cada qual assignava 500 reis, 1$, até menos.

Lellis Piedade soube do ocorrido, transmitiu-o ao Aloysio e ao Alfredo Requião. O encarregado das listas foi chamado á presença do segundo, que lhe pediu explicações: - Não. Não fica bem. Os senhores offerecerão um presente…

– ?

– O JORNAL toma a si essa despeza. Vamos à rua. Dê-me a lista…

E O JORNAL, e Aloysio, e Nemo (Lellis) e Alfredo Requião assignaram grandes quantias naquela mesma lista de papel de prova.

Vindo o encarregado á officina e dizendo o sucedido, a rapaziada, cheia de entusiamos, iniciou a sua festa enguendo vivas ao JORNAL e ao Chile.

Meia hora depois, os gráficos desse orgam da Imprensa sabiam que a casa Gallo Junior estava a confeccionar lindo cartão de prata para ser oferecido aos chilenos o que ez na sessão solene do Lyceu de Artes e Officios o rabiscador destas linhas, antes do Miguel Chaves, que proferiu um discurso, o qual assim terminou:

“Hermanos del Chile. Ahora a vos yo me dirijo particularmente.

Recibide este humilde homenaje de los trabajadores de la Imprenta ala vuestra Gran Patria, asi como ella recibio el corazon del Brasil que la adora! Viva el Chile!”

E de Aloysio de Carvalho, que recitou lindos versos, entre os quaes os seguinte:

“ Em honra dos seus Visitantes
Toda a Bahia desfile,
Soltando os gritos vibrantes
Viva o Brasil! Viva o Chile!

João Varella, “Da Bahia que eu vi”, 1935, p. 132-136.

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