quarta-feira, 9 de maio de 2018

De volta ao século XVIII, no Largo do Pelourinho...



"A Praça José de Alencar é, para todos os efeitos, 
o Largo do Pelourinho. 
Pitoresco lugar onde encontramos ainda a velha Bahia do séc. XVIII. 
Algumas casas antiquíssimas, com suas altas varandas para a rua, 
os transeuntes, as negras típicas, tudo nos lembra e sugere o passado. 
Ao longo, o perfil das igrejas, de muitas igrejas, 
com suas torres esguias varando o céu da Bahia. 
O céu eternamente azul da Bahia."


Lindo texto encontrado nos arquivos de Godofredo Filho, primeiro representante na Bahia do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN. Demonstra bem o patrimônio material e imaterial que se pretendia preservar com pedidos de tombamento desde o final da década de 1930, atendidos em 1959.


1900


Erich Joachim Hess - Década de 1950.



Dimitri Kessel - 1957.

Infelizmente, muito se perdeu dessa dinâmica do velho centro, especialmente a partir dos anos de 1990, quando se decidiu tornar a velha urbe um "shopping a céu aberto" e cada vez mais passou-se a investir na substituição da sua função habitacional - e de comércio e serviços voltados para a população residente - por uma função turística - e de comércio e serviços voltados para visitantes. O velho centro povoado, com toda a sua dinâmica citadina real, foi convertido em cartão-postal e moldura das atrações, representações e espetáculos de um turismo de consumo, pouco preocupado com a história, a arte e a cultura de tão incrível sítio. Muitas vezes atentando contra esses elementos que lhe são fundamentais. 

O colorido do casario do velho Pelourinho - uma novidade no século XX à velha prática de caiação, devida  ao fornecimento pela indústria de frascos ou bisnagas de pigmentos baratos para misturar ao branco -  tornou-se grande destaque dentro desse novo contexto e foi ganhando cada vez mais intensidade, brilho e plástica. Essa prática também, lamentavelmente, assemelha cada vez mais o patrimônio histórico a "cenário novelesco", impossibilitando uma contemplação mais realista do ambiente, do ponto de vista histórico e cultural.

São os caminhos de um turismo que não tem nada de cultural. É o patrimônio a serviço do mercado, dos negócios, das elites, do poder e do consumismo fútil.

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