A Cidade do Salvador, enquanto
“cabeça do Brasil”, teve apenas um hospital, o qual, com ela, nascera: o da Misericórdia,
da invocação de Nossa Senhora das Candeias - o que vale dizer, da Purificação
da Virgem Mãe de Deus.
Haveria de se ponderar, com a
lição de Acioli, que, de tempos remotos, junto à Capela de São Lázaro, fora da
barra, elevara, um lazareto, a caridade dos moradores, onde se recolhiam os
doentes pobres ou chegados nas embarcações vindas dos portos da Costa de África.
Exigiria, mais tarde, a Câmara,
em oficio de 5 de julho de 1755, que o governo fizesse ali estabelecer um edifício
maior, com as comodidades precisas para recolher o grande número dos
contaminados da elefantíase; e – continua o autor das “Memórias Históricas” – precedendo
as informações do Governador, que então era o Conde dos Arcos, concedeu a
provisão de 27 de marco de 1762 a fatura do pretendido hospital, com a condição
de que nele curar-se-iam somente os leprosos e não os infeccionados de
escorbuto ou mal de Loanda, por ser moléstia curável, tendo antes ordenado a
Provisão de 11 de agosto de 1758 que cada uma das casas do povo e do terceiro
estado concorresse, anualmente, com a quantia de vinte réis, os que tivessem nobreza
40 réis, e os forados 80 réis, para a manutenção do mesmo lazareto, contribuição
esta que foi aceita pelo povo, reunido no dia 26 de julho do ano seguinte, na
Casa da Câmara, chamado a toque de sino por três dias, segundo o estilo antigo
em tais casos, votando somente o procurador da mesma Câmara, contra o local.
“Eram claviculários do cofre o
Juiz de Fora da Cidade, o 1º Vereador da Câmara e o Provedor da Casa da Misericórdia
e, com audiência do povo em Câmara, se organizou o compromisso daquele
Lazareto, segundo também o determinara a sobredita Provisão de 11 de agosto de
1758, compromisso esse que constava de 10 artigos, assinada por Simão Mendes
Barreto, que então ocupava o lugar de Provedor"… Conheceu-se, porém, bem
depressa, ser muito diminuta a contribuição, para um estabelecimento de tal
natureza, especialmente, se precisando ainda fazer o edifício; mas ocorreu a
isto o governo, determinando em provisão de 1º de abril de 1762, que a Câmara
nomeasse pedidores de esmolas pela Província de Minas Gerais e, a exemplo do
aumento de igual contribuição anual, determinada para o Rio de Janeiro,
conforme o exigira o Vice Rei Conde da Cunha, mandou a provisão de 9 de outubro
de 1765 que o Conde dos Arcos ouvisse, novamente, a Câmara, se era, ou não, conveniente
haver igual alteração o que não teve efeito, por exorbitar do assento ao princípio
tomado, de sorte que este lazareto de nada vinha a servir, ao passo que o
aumento progressivo da população tornava maior o número dos infeccionados, que
divagavam por toda a cidade”.
Solução sobre o Lazareto dá o
benemérito D. Rodrigo de Menezes investido no governo da Bahia em 1784.
“Lançando as vistas para a fazenda denominada Quinta dos Padres _ (pertencia
esta fazenda aos extintos Jesuítas) e fazia parte dela a outra denominada de
São Cristóvão, com a sua capela e um quarto de légua em quadro; a conhecida,
por Quinta, tinha um hospício, ótima fonte de agua nativa, muitas árvores frutíferas,
brejo, e ambas foram arrematadas por Domingos Rodrigues Junqueira, como
procurador de João Rodrigues Pereira, por 2$800$000 rs. no dia 28, de maio de
1762.
D. Rodrigo tinha mandado recolher
os lazairentos, na Fortaleza do Barbalho enquanto cuidava na gafaria, e o dia
da transladação dos enfermos e abertura do hospital, em 21 de agosto de 1787,
dedicado ao aniversário do Príncipe Regente, foi festejado na Capela da Quinta,
com um TE DEUM solene, ao qual assistiram as principais pessoas da cidade. – Comprou-a
por 6:000$000 que sem muito custo arrecadou do povo, e mandando ali fazer as acomodações
necessárias, que se concluíram em três anos de assíduo trabalho, estabeleceu na
mesma Quinta, a Gafaria. Para ocorrer à despesa, que este estabelecimento
demandava, instituiu o Celeiro Público, mais conhecido por Tulha, celeiro este,
que principiou em 9 de setembro de 1785 e foi aprovado por Carta Regia de 25 de
agosto de 1807, dando-lhe regimento pelo qual a farinha de mandioca, arroz,
milho e feijão, paga 20 réis por alqueire".
E, ao apagar das luzes do século
XVIII, o famoso Fernando José de Portugal estabeleceu no antigo Colégio da
Companhia de Jesus, um Hospital Militar, encarregando da administração a
Francisco Gomes de Souza, “evitando desta forma o péssimo tratamento que então
tinham os soldados enfermos, curados no hospital da Casa de Misericórdia”.
Luiz Monteiro da Costa
O Hospital Marítimo e a Confraria do Corpo Santo.
In: Revista do Instituto Geográfico e Histórica da Bahia, nº 86, 1976/77, p. 27-39.
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