Nas tardes de sol, dá gôsto ver o desfile da elegância na Rua Chile,
que é o coração da cidade. Ali está a gente do bom-tom “footingando” à porta
das casas de modas, a ouvir os discos mais em voga. Tem muito de um bazar e
muito de um laboratório a Rua Chile. Laboratório de fermentações indiscretas e
maliciosas, em que a matéria-prima é sempre a vida alheia; bazar de bonecas
elegantes, tipos autênticos de Nuremberg, louras e mestiças, e de fantoches de
polainas e óculos de tartaruga, que dizem banalidades…
FLORÊNCIO SANTOS
A Rua Chile é a principal da Bahia, como a Rua Nova, no Recife, a da
Praia, em Pôrto Alegre e a da Bahia, em Belo Horizonte.
Hotéis, casas comerciais de luxo, consultórios, estão localizados nessa
artéria. Dada sua importância, é quase certo que será das primeiras que o
visitante irá conhecer.É uma rua como outra qualquer, em qualquer cidade.
Pequena, com os quatrocentos anos sofreu alargamentos e já teve vários nomes:
Porta de Santa Luzia, Porta de São Bento, Rua dos Mercadores, Rua Direita do
Palácio. Seu atual nome provém de uma homenagem do govêrno baiano ao Chile, por
ocasião da visita à cidade de marinheiros chilenos em 1902.
Nessa pequena artéria se reúne diàriamente o médico, o jornalista, o
estudante, o gigolô, a grã-fina, o cafetão, o vigarista, o advogado, os “tiras”
da Ordem’ Política, o funcionário público e o “boa-vida”. Por ela passa um
homem de negócios apressado, sobraçando uma pasta, que pára um instante, abraça
um amigo, olha uma “dona” e continua o caminho. O advogado que vai ao correio
colocar uma carta e demora bocas. Ou então, o estudante que “fila” a aula para
ver uma garôta que, dias antes, lhe dera “bola”.
Aí discutem-se os problemas do país, fala-se em futebol, em política
interna e externa, comenta-se a vida alheia, contam-se anedotas e mais outras
coisas que só o baiano sabe fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário